São Paulo, sábado, 18 de março de 1995
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Nova montagem muda legendas e retira suportes

DANIEL PIZA
DA REPORTAGEM LOCAL

A decisão de Luiz Marques não poderia ser mais acertada. E óbvia. Não há museu no mundo em que se entre e não se encontre o melhor do acervo em exibição.
O Masp chegou a esse ponto diversas vezes no passado. Numa delas, quando o segundo andar deu espaço para a exposição "Pintura Francesa", teve o infortúnio de ser visitada pelo escritor americano John Updike, dublê de crítico de arte (muito bom, por sinal).
Updike foi obrigado a ver os Rafael, Tintoretto, Ticiano, Goya e outras preciosidades do museu empoleirados no cubículo da reserva (que será ampliada este ano, diz Marques). Claro, fatos como esse só podem ser ruins para o Masp.
Marques também está certíssimo em combater algumas cismas irracionais grudadas ao museu. Primeira delas, o suporte de vidro. Já retirou deles as telas de grandes dimensões que corriam risco de cair, como o retrato "Conde-Duque de Olivares", de Velásquez, e as colocou em anteparos erguidos para esta remontagem.
Marques pretende diminuir ainda mais o número de suportes de vidro. Com isso se elimina a poluição visual criada pelos vidros —através dos quais se vêem vultos de cinco obras quando se quer ver uma única— e ganha-se um ambiente mais aconchegante.
Também colocou ao pé dos suportes a legenda das obras, que antes só se viam às costas da tela, obrigando o visitante a valsar ao redor. Lina Bo Bardi, que projetou o Masp, achava que isso estimularia o público a olhar e fruir a obra, antes de saber de quem é. Mas o que faz é desestimulá-lo. Arte fala a intelecto e sentidos juntamente.
Os curadores contemporâneos gostam de dizer que em museus a arte parece morta, distante (claro, as instalações é que despertam o inocente consumidor). Mas museus não são playgrounds —embora se divirta neles à beça.
(DP)

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