São Paulo, sábado, 18 de março de 1995
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Wooster trouxe último suspiro dos anos 80

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

O diretor Gerald Thomas, em artigo anteontem neste caderno, dizia que "a linguagem do Wooster Group é a única que sobreviveu ao massacre do final dos anos 80 e aos anos 90". O massacre que levou, por exemplo, Robert "Bob" Wilson. Sobre o massacre de Wilson, a prova está nas apresentações tediosas de "When We Dead Awaken", na entrada dos mesmos anos 90, no Teatro Municipal. Agora, quanto à sobrevivência do Wooster Group, ainda faltam provas.
O impacto de "Frank Dell's The Temptation of St. Antony", anteontem no Teatro Sesc Anchieta, foi em tudo semelhante ao de "When We Dead Awaken". Certo, estão lá o humor e a ironia, que são, aliás, as maiores características do teatro sobrevivente do próprio Gerald Thomas, nestes anos 90. Mas o humor e a ironia não estão sozinhos.
O coração do trabalho do Wooster Group, neste espetáculo, ainda se definia nas palavras "aparência é a única realidade", uma das frases soltas do ator Willem Dafoe, no papel do diretor de uma companhia de mágicos (supostamente o comediante Lenny Bruce, também chamado Frank Dell, mas certamente o alter-ego da diretora do próprio Wooster Group, Elizabeth LeCompte).
A frase foi a chave usada para negar o texto ou a linearidade no teatro, nas duas ou três décadas passadas. E a questão é se "Frank Dell's The Temptation of St. Antony", com isso, ainda é representativo do teatro do Wooster Group, hoje.
A peça, que estreou em 1987, fechou a trilogia "The Road to Immortality", iniciada em 1981. Foi remontada este ano, ao que parece, em memória do ator Ron Vawter, que fazia o personagem do diretor nas primeiras encenações. Vawter tinha Aids e morreu no ano passado. Ele comparece às apresentações em São Paulo através do vídeo, em que faz o entediado entrevistador de um programa de televisão, um "talk-show" em que todos estão nus.
Os programas do gênero, típicos de meados dos anos 80, na televisão a cabo de Nova York, sede do grupo, tornaram-se cultuados em certa época. A cena, ou o "episódio", como quer a montagem, é engraçada; assim como é carinhosa e tocante a homenagem, por assim dizer, do ator Willem Dafoe, da diretora e da companhia a Ron Vawter. Mas a referência se perdeu no tempo.
O Wooster Group não está mais nos anos 80 e vem buscando um caminho diverso para os seus espetáculos desde "Brace Up!", de 1991. Um caminho em que as palavras, em que as peças originais de Tchecov e outros autores não entram em segundo plano diante da imagem, mas em equilíbrio, expressão da própria Elizabeth LeCompte, com a imagem.
Sobrevivem as televisões e "sobrevive a linguagem", mas enriquecida por uma realidade que não está só na aparência. Infelizmente, não é este o caso de "Frank Dell's The Temptation of St. Antony", de 1987. A peça se perdeu no tempo. Por maior que seja a sua verborragia, ainda não é o verbo.

Espetáculo: Frank Dell's The Temptation of St. Antony
Direção: Elizabeth LeCompte
Elenco: Willem Dafoe (Frank Dell), Ron Vawter (Frank Dell, em vídeo), Peyton Smith (Phyllis), Kate Valk (Onna) e outros
Quando: Hoje às 21h, amanhã às 20h, segunda às 21h
Onde: Teatro Sesc Anchieta (r. dr. Vila Nova, 245, tel. 256-2281)
Quanto: R$ 30,00 e RS$ 15 (comerciários)
Sinopse: Frank Dell assiste um vídeo, ensaia Onna e Phyllis e depois apresenta com elas um suposto espetáculo de mágica, tudo em meio a referências a "La Tentation de Saint Antoine", de Flaubert

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