São Paulo, sábado, 18 de março de 1995
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Cantor busca nicho de mercado

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
FREE-LANCE PARA A FOLHA

No meio de "Eu e Memê, Memê e Eu", há uma faixa instrumental, "Cyberia". É a música-símbolo do disco: quer ser Cyberia, mas chega mais perto da gelada Sibéria.
Em clima "2001 - Uma Odisséia no Espaço", a faixa pretende repassar a história do homem, de primitivos sons tribais à era da alta tecnologia. É cafona e quase chata, e a assimilação da alta tecnologia resume-se, para Lulu e Memê, a cinco remixes repletos de clichês da dance music mais comercial.
O disco mostra Lulu como mais um roqueiro brasileiro da geração 80 à procura de nichos perdidos de mercado. Enquanto Titãs se refugiam no heavy, Paralamas perseguem a MPB mais maldita e Renato Russo firma-se como intérprete, Lulu continua fazendo jus ao pop populista. É o que tem maiores chances de emplacar.
Mas a dance music que Fernanda Abreu cria —bem— por convicção, Lulu parece criar por convenção. A sinceridade apaixonada dos samplers de Fernanda não aparece nas colagens de Lulu.
A primeira parte do disco é, mesmo assim, apetitosa. "Se Você Pensa", versão de Roberto e Erasmo abortada no projeto "Rei", seria mesmo uma das melhores faixas do disco-tributo, quase tão boa quanto a de Marina Lima (artista-fetiche de Lulu).
Mas "Fullgás", de Marina, perde-se no tempo e no espaço com Lulu. Ao contrário, "Sossego", de Tim Maia, fica divertida como um rock pesadão de vocais retorcidos.
O verdadeiro sossego vem na faixa seguinte, a antiga "Sereia", ainda inédita na voz de Lulu. A música, no melhor estilo zen-surfismo forjado pelo cantor no início de sua carreira, tem interpretação tranquila e delicada, que a torna a melhor do disco. Virou tema da novela das oito.
(PAS)

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