São Paulo, sábado, 18 de março de 1995 |
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Acadêmicos criticam o governo e defendem preço de livro tabelado
LUIZ ANTÔNIO RYFF
"Sou inteiramente contra. Eu vivo do preço estabelecido", diz o acadêmico Lêdo Ivo, 71. "O governo não deve se meter onde não é chamado. É uma ingerência indébita na livre iniciativa. Quem deu ao governo esse direito? Não foram os escritores nem os editores", afirma. Na sua opinião, os escritores serão muito prejudicados com o fim do preço de capa. "Se acabar com a tabela, o autor fica sem parâmetros para controlar a vendagem da sua obra", explica. O acadêmico acha que o governo deveria atuar de outra forma e defender o autor nacional. "O esforço do governo devia ser canalizado em outros sentidos. Devia estimular a abertura de livrarias e baratear o preço do papel, diminuir impostos em torno do livro e ligar as livrarias ao programa de microempresa", diz. Ele acredita que o modelo existente obedece à lei da livre concorrência. E acha que os escritores têm que lutar contra a possibilidade de extinção do preço de capa. "É preciso se mobilizar contra isso. Escritores e editores estão na mesma canoa e não fomos consultados", afirma. O presidente da ABL, Josué Montello, 77, defende a manutenção do modelo atual. "Sou favorável ao preço de capa, que sempre marcou o direito autoral", diz. "O governo deve intervir para divulgar os escritores, abrir espaço para eles, produzir co-edições, reformular o Instituto do Livro, promover exposições e abrir espaço para a literatura nos meios de comunicação", diz. A acadêmica Rachel de Queiroz, 84, está preocupada com a situação. "Só bebo, só como, só vivo com o que escrevo", diz. Ela define a atuação do governo no caso como arbitrária. "Enfiar uma medida dessas assim, sem pensar, parece coisa do (ex-presidente Fernando) Collor", opina. Rachel não aceita a alegação do governo de que o preço de capa impede a livre concorrência. "Se o livro não está vendendo, o livreiro baixa o preço", afirma. Ela acredita que o assunto é muito delicado e defende uma discussão ampla e aprofundada. "Se querem se meter nisso, façam com competência e consciência. Mas por quê não interferem no mercado do papel, que está caríssimo", questiona. Ela avalia que há coisas mais importantes no mercado editorial para o governo se preocupar. "O livro no Brasil tem um preço exorbitante. O governo devia baixar o custo de produção do livro, dando subsídios aos insumos ou arranjando papel barato", diz. Texto Anterior: Pianista afirma que nunca recebeu ajuda Próximo Texto: Paulo Coelho só perde para Gabriel García Márquez na AL Índice |
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