São Paulo, domingo, 19 de março de 1995
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Brasil só fica com 1,1% do crédito privado internacional

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Sócio menor da globalização, o Brasil conseguiu absorver 1,1% da oferta de crédito privado mundial em 1993 —o equivalente a 10,9% dos recursos destinados aos chamados países emergentes.
Naquele ano, US$ 85,4 bilhões foram emprestados aos países emergentes e outros US$ 80 bilhões ingressaram como investimento direto.
A pergunta é se o ingresso desses recursos compensa o chamado "risco sistêmico" da globalização. Ou seja, com os mercados interligados, a quebra de um país gera movimentos de capitais que acabam quebrando outros em dominó.
Para Octavio de Barros, diretor-técnico da Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica), a hipótese de "desplugar" o Brasil do circuito mundial financeiro sequer existe.
Todos os planos anteriores ao Real, diz, fracassaram por problemas no balanço de pagamentos (conta final do relacionamento comercial e financeiro do Brasil com o mundo).
Para Barros, o país pagou um custo baixo, "perto dos benefícios", para acumular reservas, avaliadas pelo mercado em US$ 30 bilhões atualmente. "Já imaginou atravessar a crise do México com só US$ 10 bilhões?", indaga.
O fato de o BC ter tido de gastar parte das reservas nas últimas semanas não o preocupa. "Elas estão sendo usadas justamente pelo motivo para os quais foram construídas: embargar movimentos especulativos contra o real."
"Eu sou daqueles que acreditam que o Brasil está sofrendo as consequências. Há uma retração dos recursos disponíveis em todos os prazos e uma quebra na confiança", diz o ex-diretor do Banco Central Francisco Pinto.
Barros acredita em uma diminuição do fluxo de recursos, mas espera que o Brasil acabe aumentando sua posição relativa.
Ele diz que, já no segundo semestre, será possível que empresas brasileiras captem recursos no exterior com a emissão de títulos e prevê, para este ano, o ingresso de US$ 4 bilhões em investimentos diretos.
A crise mexicana, porém, já aumentou o custo de captação em "500 pontos básicos", avalia. Ou seja, quem conseguiu, antes da crise, colocar seus títulos pagando juros de 12% ao ano; agora, terá de pagar 17%. (JCO)

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