São Paulo, domingo, 19 de março de 1995
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Modelo condena países a pagar juros altos

DA REPORTAGEM LOCAL

Os países emergentes, como o Brasil, estão condenados a sempre pagar juros mais altos do que os dos países desenvolvidos. Pelo menos enquanto precisarem de capital para crescer.
Essa regra é um desdobramento das mudanças que a globalização operou no mercado financeiro. Agora, o que influencia a taxa de câmbio, em todo planeta e não só no Brasil, é menos a performance comercial (exportações e importações) e mais a diferença entre o juro pago internamente e o praticado no exterior.
Até os anos 80, segundo dados do FMI e do Banco Mundial, os movimentos de capital correspondiam a 14,3% do PIB (Produto Interno Bruto) dos países desenvolvidos. Em 92, já somavam 89%.
A proximidade virtual dos mercados, via telemática, ampliou as alternativas de aplicação. A decisão de investir na Malásia ou no México será a resultante da remuneração oferecida e da taxa de risco (de não receber ou de receber menos do que esperava).
Não é por outra razão que, segundo Octavio de Barros, diretor técnico da Sobeet, um dos negócios que mais cresce no mundo é o das empresas que medem risco.
Assim, o "spread" (diferença de taxas internas e externas) traduz o tamanho do risco de cada país.
"Isto só explicita as diferenças que já existiam de qualquer forma", diz o ex-diretor do Banco Central Francisco Pinto, que completa: "A França e a Holanda, por exemplo, também estão obrigadas a seguir a tendência das taxas praticadas na Alemanha."
É também por isto que a cada nova crise, seja a quebra do Banco Barings ou do México, "a primeira reação é promover uma revisão geral dos riscos", diz.
Este processo implica tanto retração e saída de capitais de regiões inteiras do planeta como queda das cotações em cadeia.
Sérgio Santa Maria, diretor de Research do Banco de Boston, lembra, por exemplo, que depois da crise do México, as Bolsas latino-americanas registraram as maiores baixas do mundo.
O crime mexicano foi o de depender do capital de curto prazo (smart money) para fechar suas contas. Dinheiro que obedece a lógica, segundo Pedro Bodin, do banco Icatu e ex-diretor do Banco Central, de "sumir quando mais se precisa dele".
Nestes momentos, os juros elevados acabam sendo vistos como um sinal de fraqueza.
Por isto, Francisco Pinto qualifica a idéia de que o mercado mundial quebra todos os países. "A próxima vítima é sempre e só o que não apresenta solidez nos fundamentos econômicos".

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