São Paulo, domingo, 19 de março de 1995
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O boato funcional e a "moeda podre"

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Boato cumpre uma função. Como o nervosismo, a agitação, a oscilação de preços. Serve para gerar dinheiro e lucro.
Boato, como a lei no Brasil, tem o que pega e o que não pega. Pega o que reflete um temor preexistente.
No câmbio, existe um temor preexistente. Será que a desvalorização do real, promovida atabalhoadamente pelo governo, é suficiente para que o país consiga gerar um superávit comercial (exportações maiores que importações) de US$ 5 bilhões? Nas contas feitas, dizem, este número mágico nos tira da rota da bancarrota.
A hipótese de que o câmbio vai subir mais serve de "start" para investidores estrangeiros. Toda desvalorização do real implica perda financeira para quem está deixando o país. Na hora da troca, diminuem os dólares.
Na dúvida, o exemplo México é recente, perde menos quem sai antes. O México não ajuda.
O próprio governo não ajuda. É sua tarefa dirimir dúvidas. Mas o PSDB, pelo jeito, só desce do muro arranhando as unhas.
Ficaram evidentes divergências sobre a necessidade de, por exemplo, impor cotas para as importações (limitando-as). Uma forma de aumentar o superávit.
E dúvidas geram reações. Se é a demanda aquecida que comanda o crescimento das importações, quem pode antecipa suas compras (pessoas e empresas).
Agora, junte um temor preexistente com pesados prejuízos. Os boatos ficam mais funcionais.
Bancos e empresas brasileiras passaram nove meses apreendendo a dever em dólar. Aprenderam. E o dólar subiu. Perderam.
Perderam mais do que se supunha, graças à confusão gerada, ao que parece, pela incontinência verbal de um nipônico operador de câmbio do BC.
A confusão foi tamanha que quase nem se conseguiu chegar um consenso sobre o óbvio. Mexer no câmbio era absolutamente imprescindível —vide México. Ficou mais difícil porque, anteriormente, o BC, baseado em certezas tão teóricas quanto acadêmicas, deixou o dólar ficar baratíssimo. Há três meses, diziam, o dólar poderia virar "moeda podre" nas privatizações.

Hoje, excepcionalmente, Luiz Carlos Mendonça de Barros não escreve nesta coluna.

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