São Paulo, domingo, 19 de março de 1995
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Mercado está com medo e espera ações do governo

DA AGÊNCIA "DINHEIRO VIVO"

A paz no mercado de câmbio durou três dias. O pacotaço baixado pelo Banco Central na sexta-feira, dia 10, golpeou duramente os especuladores, mas só foi capaz de tranquilizar as mesas de sexta a terça-feira. A partir de quarta-feira a agitação retornou. Esta se diferencia da anterior, puramente especulativa, por ter componente de sincera preocupação com o lado externo da economia.
O desequilíbrio cambial se manteve mesmo depois do pacotaço do dia 10. Deste dia até quinta-feira, 16, saíram do país via remessa e importação US$ 2,51 bilhões e entraram (exportação e ingresso de capitais) US$ 1,51 bilhão. O número mais inquietante se refere à fuga de capitais externos. Apesar do elenco impressionante de providências destinadas a estimular a permanência dos dólares, depois do pacote US$ 1,65 bilhão deixou o Brasil. Há um outro dado que chega a arrepiar: do início do ano até quinta-feira, a remessa de capital totalizou US$ 12,69 bilhões.
A estratégia do governo se dará em duas frentes.
1) Pelo ataque direto às expectativas adversas. O governo sinalizará com medidas específicas (prepara um pacote de incentivo às exportações e de contenção das importações) que a prioridade é a face externa da economia. Se conseguir indicar ao mercado que no médio prazo colherá superávits comerciais e sustentará reservas cambiais entre US$ 35 e 40 bilhões, o governo muda as expectativas. 2) Pelo resgate da credibilidade das decisões do BC.
A cúpula do BC precisa inspirar confiança aos bancos. E não se consegue isso mantendo no mesmo "board" dois economistas rivais. O Planalto localizou nas divergências irreconciliáveis entre Pérsio Arida e Gustavo Franco uma fonte inesgotável e perpétua de intranquilidade e resolveu que um deles será afastado. O sacrifício será exigido de Gustavo Franco. Diretores de câmbio dizem que a saída de Franco, favas contadas, já está embutida no atual preço do dólar. O aumento do nervosismo dependerá do nome do sucessor.

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