São Paulo, domingo, 19 de março de 1995 |
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Destruição fotografada
IAN ANDERSON
Cientistas do Parque Marinho da Grande Barreira de Recifes em Townsville, Queensland, compararam fotos atuais da Barreira de Recifes com outros tiradas há uma época que chega a remontar até 1890 e ficaram chocados com o que encontraram. "Alguma coisa está destruindo os recifes e também evitando que novos recifes se formem", disse Jon Brodie, chefe de pesquisa e monitoramento do instituto. "Nós suspeitamos fortemente que o coral está sendo sufocado por sedimentos vindos da terra". A Grande Barreira de Recifes, que é composta de 2.900 recifes individuais e 900 ilhas, entende-se por 2.000 quilômetros na costa nordeste da Austrália. As partes que estão desaparecendo são principalmente as partes planas dos recifes e platôs de corais do lado emerso dos recifes. Desmatamento, aumento na lavoura de cana-de-açúcar e pastagens aumentam o nível de sedimentos depositados nos rios que desaguam na costa leste. Fertilizantes que contêm fosfatos e nitratos frequentemente se encontram nesses sedimentos. Esses micronutrientes fazem com que haja um "bloom" (aumento súbito de produção de matéria orgânica) de algas marinhas e outras algas que impedem ou reduzem a quantidade de luz solar que chega aos organismos formadores de corais. Uma cobertura desses sedimentos moles também pode estar evitando a fixação das larvas responsáveis pela formação dos corais, que necessitam de um substrato duro para crescer. A maioria das fotografias examinadas foram tiradas antes de 1960, quando fertilizantes ainda não eram largamente usados. Um dos locais fotografados foi identificado e David Wachenfeld, pesquisador do instituto, voltou ao local e tirou centenas de novas fotografias para comparação. Ele visitou 40 outros locais, principalmente na faixa de 600 quilômetros entre as ilhas Bowen e Low próximas a Port Douglas. As partes planas dos corais desapareceram em pelo menos nove desses locais, nas ilhas Whitsunday e Magnetic, próximas a Townsville, ilhas Fitzroy, Green, Michaelmas Cay e Low. "Os locais onde as pessoas mergulham estão em condições razoáveis, mas as partes planas estão com problemas", explica Broadie. A mais espetacular forma de coral —os gorgonáceos— parecem estar desaparecendo mais rápido que os corais maciços. Broadie acredita que o movimento da água por cima da cabeça desses corais esteja lavando o sedimento ao passo que os delicados braços dos gorgonáceos bloqueiam os sedimentos. Ele está confiante que a destruição possa ser interrompida, ainda que, a curto prazo, possa piorar. No norte de Townsvilee, a maioria dos plantadores de cana interrompeu a prática da queimada, que favorece a erosão. Na verdade, eles estão cortando a cana enquanto ela está verde e esparramando suas folhas para formação do húmus. "Temos que convencer os fazendeiros do sul a fazer o mesmo", disse Broadie. Os fazendeiros e construtores de estrada já começaram a controlar a quantidade de sedimentos e nutrientes que eles ajudam a depositar nos rios. Texto Anterior: Sexo cerebral; Gestação; Adrenalina Próximo Texto: Livro mostra a evolução do genoma Índice |
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