São Paulo, domingo, 19 de março de 1995
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Governo estuda fórmula salarial

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA — Aumentos salariais contribuem para o crescimento da inflação? O ministro Pedro Malan traz hoje de volta, em entrevista à Folha, esse antigo debate. Sua resposta: sim. Sua crítica: os gatilhos salariais concedidos a categorias de trabalhadores paulistas prejudicam o Plano Real. E a advertência: os empresários que repassarem aumentos de salários aos preços vão perder mercado.
A combinação de reposta, crítica e advertência do ministro Pedro Malan é a matéria-prima dos estudos no Ministério da Fazenda para uma nova fórmula de reajuste salarial que vai, certamente, provocar tiroteio.
A fórmula é fincada na meta de desindexação. Traduzindo: os reajustes não deveriam incorporar toda a inflação passada. Traduzindo um pouco mais: se a inflação passada foi 100%, o reajuste automático poderia ser, por exemplo, 80%.
Malan argumenta —e com razão— que, pressionado pelo salário maior, o empresário desconta no preço, aquecendo a inflação. Perde, no final da linha, o trabalhador. Dessa vez, acrescenta o ministro, como o mercado estaria mais aberto, reduzem-se as vendas e aumenta-se o desemprego.
O trabalhador reclama —e também com razão— que seu salário perdeu valor porque os preços subiram. Tem família para cuidar e quer, no mínimo, manter o mesmo padrão de vida.
A discussão já seria delicada num patamar de inflação baixa e estável. O problema é que a inflação está subindo. Para um país acostumado com taxas estratosféricas, 2% ao mês podem não parecer muito.
Mas essa taxa acumulada em 12 meses significa, na prática, que o trabalhador perde quase um quarto de seu poder de compra. Não é pouca coisa: especialmente para quem gasta a maior parte de seu salário em coisas essenciais como alimentos, aluguel e transporte.
Se as entidades sindicais quiserem de fato defender seriamente o trabalhador, não deveriam apenas se preocupar com fórmulas salariais. Mas pressionar governantes e parlamentares para que evitassem rombos orçamentários —estes sim a grande causa da inflação, que faz do trabalhador a primeira e constante vítima.

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