São Paulo, sexta-feira, 24 de março de 1995
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Comida da roça está bem perto da cidade

JOSIMAR MELO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Nada como um passeio na roça para abrir o apetite. Mesmo que, neste caso, seja uma roça completamente "fake". A decoração do restaurante O Compadre, por dentro e por fora, imita o ambiente e a paisagem do campo. Não é verdadeira, mas a comida é.
O Compadre é uma bela tentativa de colocar no pedestal a comida rústica brasileira. Simbolicamente, o pedestal é o grande espaço a ela dedicado: um galpão numa esquina da Vila Maria. Por fora, ele imita uma casa de fazenda; por dentro, tem paisagens pintadas nas paredes, que mostram uma relva tranquila emoldurando um lago, uma casa e um terraço. Para completar, o salão é decorado com objetos rústicos, as mesas têm moringas de água e os garçons vestem-se à moda caipira.
Mas a comida tem também um pedestal, ou altar, colocado em lugar nobre. Trata-se de um enorme fogão à lenha, onde ficam expostas e aquecidas as cumbucas com as comidas trazidas da cozinha. Um canto do fogão funciona como churrasqueira, com brasa de carvão.
O restaurante não fica longe do centro. Está a poucos minutos da ponte que cruza o rio Tietê em direção à Vila Maria. Foi criado pelo casal Osmar, 50, e Rosa Maria Temperani, 42, ambos mineiros. Eles mantêm há 25 anos uma churrascaria na Vila Maria e, no início de 92, abriram o Compadre, onde a titular na cozinha é Rosa Maria, enquanto marido e filhos cuidam da administração.
A oferta de pratos é grande. As saladas, trazidas do sítio dos proprietários, são triviais, com temperos modestos e ficam expostas em outro balcão. No fogão, repousam as melhores atrações. Torresmo sequinho, bolinho de arroz ou de bacalhau e polenta frita podem ser a companhia para uma dose de cachaça da casa ou para um dos primeiros copos de chope (com a sábia opção do chope escuro).
A comida do tropeiro não falta: paçoca de pilão (de farinha e carne-seca), tutu de feijão bem cremoso, feijão de tropeiro um tanto seco. Do porco, quase tudo (costela, lombo assado, pernil assado), ou tudo mesmo, se for quarta ou sábado, os dias de feijoada.
Há uma ou outra intromissão de fora (como o bacalhau ao forno ou a moqueca baiana)... E os grelhados, como linguiça e picanha —cuide apenas para que, após fatiá-la, a garçonete não a aqueça em demasia na chapa.
O almoço, que custa um preço comovedoramente honesto, se completa com doces caseiros, sagu, licor de jabuticaba e um suspeito café açucarado deixado em garrafa térmica —hora de largar a roça e procurar um bom expresso na cidade.

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