São Paulo, domingo, 26 de março de 1995
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Real traz ganho salarial semelhante ao do Cruzado

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O Plano Real já produziu um ganho salarial equivalente ao obtido durante o Plano Cruzado.
Apesar de valores parecidos, o ganho promovido pelo Real é potencialmente maior do que o registrado no Cruzado, desde que a inflação não sofra uma aceleração repentina.
Em 86, existia a indexação formal dos salários (pelo gatilho). Agora, pelo menos até julho, está garantida a reposição pelo IPC-r somente nas datas-bases.
No Cruzado, os salários tiveram um abono no momento inicial do plano e já vinham em uma trajetória ascendente. Além disso, os preços ficaram congelados (e nem sempre os índices conseguiram captar os impactos do ágio ou do desabastecimento).
No caso do Real, os salários partem de um patamar mais baixo (dado o nível de inflação preexistente) e os preços estão livres —somente as tarifas públicas estão congeladas ou, no caso da gasolina, sofreram queda nominal.
Além disso, o abono dado ao salário mínimo só foi recebido em fevereiro (não entrou no cálculo) e seu reajuste será só em maio.
Essas comparações entre os salários no Real e no Cruzado foram feitas utilizando-se a inflação medida pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da USP) e o salário nominal apurado pelo convênio Seade (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados) e Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócioeconômicos).
O pressuposto do cálculo é que o trabalhador gasta dois terços de seus salários no mês em que recebe e um terço no mês seguinte.
O potencial de aumento do consumo por parte dos trabalhadores de baixa renda, promovido pelo Real, fica mais visível na comparação entre o salário nominal do Seade/Dieese pelo custo da cesta básica do Procon.
O cálculo foi feito estimando-se que o trabalhador gasta todo seu salário na terceira semana de cada mês. Neste caso, o ganho foi de 33,17% contra a média apurada em todo o ano de 1993.
Ao longo do Real, de junho até janeiro de 1995, o ganho é maior: de 50,8%. É que o custo da cesta básica caiu, depois de sofrer fortes ajustes no momento imediatamente anterior a extinção da correção automática dos salários pela URV (Unidade Real de Valor).
Os índices de inflação estão sendo mais pressionados pelos serviços, mensalidades escolares e aluguéis.
Para os trabalhadores de baixa renda, somente o aumento dos aluguéis acaba batendo no bolso. O reajuste dos serviços é ganho e não custo —caso de costureiras, barbeiros, encanadores etc —, enquanto o efeito das mensalidades escolares é nulo.
Por outro lado, a queda da cesta básica abriu espaço para o aumento do consumo de outros itens. Um espaço que foi potencializado pelo ressurgimento do crediário.

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