São Paulo, segunda-feira, 27 de março de 1995
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Moderados do PT decidem endurecer

CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

O PT acredita que acabou o namoro da população com o governo Fernando Henrique Cardoso. Por isso, vai radicalizar na oposição tímida que fazia aos tucanos até a semana passada.
"É óbvio que agora está mais fácil fazer oposição do que em janeiro", diz Rui Falcão, vice-presidente do PT e líder da ala esquerda do partido.
Na outra ponta do espectro político petista, o deputado federal José Genoino também aposta que o partido vai radicalizar na ação contra Fernando Henrique, embora não concorde com o caminho. "A tendência do PT é fazer barulho", acha Genoino.
A prova foi dada na última quarta-feira, em Brasília, quando o governo petista do Distrito Federal patrocinou parte da até agora maior manifestação pública contra a reforma constitucional.
O diagnóstico comum no partido é que a letargia do governo e o conteúdo das propostas de reforma constitucional de FHC enfraqueceram o apoio popular e a própria base de sustentação parlamentar da administração tucana.
Além, é claro, do episódio da crise cambial, que, no entender da cúpula partidária, afetou a credibilidade do Plano Real.
"A falta de política do governo também ajudou e vamos endurecer", diz Gilberto Carvalho, secretário-geral do PT e integrante da corrente de centro, a mesma do presidente do partido, Luiz Inácio Lula da Silva.
Acordo
Coincidência ou não, a reentrada em cena do PT oposicionista, depois até de adesões ao poder de ilustres do partido —o ministro da Cultura de FHC, Francisco Weffort, e a assessora do Ministério das ComunicaçÕes, Irma Passoni—, se dá no momento em que a legenda entra no tradicionalmente conturbado período de eleições de suas direções.
"O PT está tateando e não conseguiu ainda uma maneira de não ser governo sem cair no corporativismo", analisa Genoino.
O ex-deputado federal e candidato derrotado ao governo de São Paulo José Dirceu é o encarregado de costurar um acordo entre as alas de centro e esquerda do PT para tentar dar "governabilidade" ao partido.
Dirceu afirma que acabou a onda de adesões petistas a FHC. O ex-deputado aponta que não existe saída para o partido e o país se não houver o acirramento do caráter de oposição.
"O governo FHC, cada vez mais, se mostra incapaz de administrar o país, e cabe ao PT se organizar para enfrentá-lo politicamente", acha Dirceu. O ex-deputado deve ser o futuro presidente do diretório do PT paulista.
Ofensiva
A prometida ofensiva do partido contra FHC é festejada na extrema-esquerda do partido, que, no entanto, espera gestos concretos da direção. Markus Sokol, líder da tendência trotskista "O Trabalho", não poupa nem Lula ao reconhecer que uma fatia considerável da legenda teve até agora uma posição ambígua diante de FHC.
"O próprio candidato do PT disse depois da eleição que seria um fiscal do programa de Fernando Henrique", recorda Sokol.
"A má-fé do governo ao tirar a reforma fiscal como prioritária na reforma mostra que ele é entreguista e só quer fazer reformas neoliberais", declara o moderado Carvalho, dando o tom da nova fase petista.

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