São Paulo, segunda-feira, 27 de março de 1995
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Governo deixa para o Congresso iniciativa de propor reforma política

CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente Fernando Henrique Cardoso deixou a reforma política a cargo do Congresso, que pretende aprovar, até outubro, uma série de mudanças na Constituição e na legislação eleitoral e partidária.
Com as alterações, os parlamentares esperam fortalecer e reduzir o número de partidos, dar estabilidade às regras do jogo eleitoral e criar mecanismos que aproximem o eleitor de seus representantes.
Nesse sentido, os principais temas em discussão são a fidelidade partidária, o estabelecimento de exigências para as legendas terem representação no Congresso e as mudanças no sistema eleitoral.
A pauta de discussão se completa com o voto facultativo, reeleição e restrições à divulgação de pesquisas eleitorais.
A revisão dos critérios de representação dos Estados no Congresso não deve entrar na pauta.
O presidente da comissão especial da Câmara que discute as reformas, deputado João Almeida (PMDB-BA), diz que não vai incluir em suas propostas mudanças no modelo atual.
A questão afeta interesses regionais. A alteração das regras encontra resistência principalmente entre parlamentares de Estados menos populosos do Norte e Nordeste, beneficiados com a sub-representação de Estados do Sul e Sudeste.
Almeida afirma que considera o assunto fundamental, mas teme que sua discussão agora provoque divisões na base de sustentação do governo e acabe prejudicando a aprovação de outras emendas.
A posição do presidente não encontra consenso entre os 30 integrantes da comissão. O relator Mendonça Filho (PFL—PE), por exemplo, é um dos parlamentares que defende a discussão da representação dos Estados.
O sistema eleitoral e a obrigatoriedade do voto são outros dois temas que devem provocar divisões entre os deputados da comissão.
Há uma grande corrente no Congresso a favor da adoção do sistema distrital misto, pelo qual metade dos deputados seria eleita por distritos (sistema majoritário) e a outra metade em todo o Estado através de listas apresentadas pelos partidos (proporcional).
O modelo misto conta com a simpatia de lideranças políticas expressivas, entre elas o próprio presidente Fernando Henrique Cardoso, que propôs sua adoção quando ainda estava no Senado.
Mas há os que têm dúvidas sobre sua adequação ao país. "Não tenho convicção formada sobre o assunto", observa Almeida.
Antes de propor qualquer alteração no sistema eleitoral, Almeida pretende realizar audiências públicas nas quais os deputados discutirão o assunto com advogados e cientistas políticos.
A obrigatoriedade do voto é outro ponto que provoca divergência entre o presidente e o relator da comissão. Almeida é favorável ao voto facultativo e Mendonça Filho prefere manter o modelo atual.

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