São Paulo, segunda-feira, 27 de março de 1995 |
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Novo 'talk show' pode estimular renovação
ESTHER HAMBURGER
Entre os programas de auditório com entrevistas, como "Sílvia Popovic" e "Programa Livre", a nova atração da CNT/Gazeta se aproxima mais do "Jô Soares Onze e Meia" do SBT. Com horário próximo e formato parecido ao do programa do gordo, "Marília Gabi Gabriela" desafia o domínio estável, e acomodado, do humorista. Jô saiu da Globo para realizar um projeto mais personalizado. Sua iniciativa foi um respiro em um panorama televisivo marcado por pouco debate. E abriu espaço para o surgimento de outros programas. Às vezes pré-gravado e às vezes ao vivo, Jô aposta na entrevista descontraída e bem-humorada, a la David Letterman -um dos apresentadores do Oscar hoje. Recentemente o programa tem se especializado em entrevistas médias sobre assuntos variados, tratados sempre no mesmo tom, como curiosidades. Com um rol de entrevistados que inclui médicos e místicos, Jô recorre ao humor fácil. É o humorista que se sobressai quando o assunto é, por exemplo, as descargas elétricas na vagina da mulher no momento do orgasmo. Entrevistas que alimentaram polêmicas, como a de Caetano Veloso, no episódio com o jornalista do "The New York Times", ou a de Randal Juliano, acusado de dedurar os baianos, andam raras no Jô. Entrevistas que tornaram o programa um palco de disputas políticas, como a de Ulysses Guimarães, também sumiram do ar. As apresentações musicais de iniciantes se tornaram menos frequentes. Desgastado por anos de apresentações diárias, fechado em um mesmo formato, o programa parece ter perdido a vivacidade. O auditório está quase sempre atrás das câmeras, como um saco de risadas, interagindo pouco e reforçando a impressão de que o público não apita. O Quinteto Onze e Meia, embora também em espaço separado, participa mais. Marília Gabriela aparentemente vai repetir a disposição do cenário, sem as risadas, já que ela não faz piadas. Difícil saber se é possível segurar tanta entrevista por tanto tempo. Outros programas diários de entrevistas e discussão experimentam inovar o formato. "Programa Livre" (SBT, 20h30) e "Programa Sílvia Popovic" (Bandeirantes, 15h15) trazem entrevistados e entrevistadores diante das câmeras. Os apresentadores dividem a platéia o fazer perguntas. Trazem mais de uma pessoa para discutir. Criam algo mais parecido com um debate. Realizam enquetes nas ruas. Oferecem a oportunidade ao telespectador de experimentar. Com maior ou menor integração do auditório, com maior ou menor participação do telespectador, esses "talk shows" estão diante do mesmo desafio: o de ir além das perguntas e respostas previsíveis. Jô, atualmente, acrescenta pouco. Parece só reproduzir as informações contidas no "press release" de uma peça ou filme. Tomara que Marília Gabriela vá além disso e sacuda o acomodado gordo. Texto Anterior: CD de opereta apresenta Sumi Jo, revelação coreano do canto lírico Próximo Texto: De Palma enfrenta Tom Wolfe Índice |
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