São Paulo, segunda-feira, 27 de março de 1995
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Austeridade onde?

Desde a eleição, o atual governo fez da austeridade uma das suas palavras de ordem, apontando a contenção de gastos como básica para a política econômica. Com o agravamento da situação externa, o imperativo do equilíbrio orçamentário reforçou-se ainda mais.
Seria então de imaginar que o Executivo, desde que assumiu, estivesse fazendo um esforço hercúleo e intransigente de redução dos desajustes nas contas públicas. Qual não foi a surpresa quando a divulgação dos dados dos dois primeiros meses deste ano revelou que o déficit não apenas não diminuiu como chegou a aumentar. Na verdade disparou, saltando 456% face ao mesmo período do ano passado.
Pode-se argumentar que o custo dos juros da dívida pública aumentou este ano em função de fatores exógenos, independentes da vontade e atuação governamental. É o caso da crise mexicana e da fuga de capitais que se seguiu.
Seria então de imaginar que, expurgado o serviço da dívida, o déficit deste início de ano seria menor que o do ano passado. Mas mesmo sem os juros a situação piorou. E muito. O superávit de US$ 215 milhões obtido em fevereiro de 94 tornou-se, este ano, um déficit da ordem de US$ 1 bilhão.
O pior é que as dificuldades tendem a aumentar muito este ano. Se, do lado das despesas, pode-se esperar uma deterioração com o aumento do gasto com os juros, do lado da receita, o desaquecimento econômico que se vem notando tampouco traz bons presságios. E se esse é o desempenho do governo federal, assusta imaginar o que ocorre na maioria dos Executivos estaduais e municipais.
Há por fim a reforma constitucional, que deveria acenar com uma situação mais equilibrada para o futuro. O processo porém avança tropegamente, por uma rota cada vez mais acidentada. O pior é que, ameaçada a âncora cambial como fator de estabilização, aumenta a importância de uma âncora fiscal, ainda inexistente.
O tema do déficit fiscal pode parecer árido e distante do cotidiano dos cidadãos. Mas se o nível de preços e o poder de compra interessam à população, também o déficit merece atenção. Direta ou indiretamente, afeta toda a economia e as chances de estabilização do país.

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