São Paulo, segunda-feira, 27 de março de 1995
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Um Roriz de esquerda

JOSIAS DE SOUZA

BRASÍLIA — Ética é o comportamento que o político exige do governo ao qual faz oposição. Falta de ética é a conduta que, uma vez no governo, o político passa a adotar.
Que o diga o PT de Brasília. Na oposição, hálito puro, arrotava ética. Sob a sombra do governo, bafo carregado, se engasga com o caviar.
Os petistas acusavam Joaquim Roriz de servir-se do Estado em proveito próprio e em benefício dos aliados. O discurso moralizador foi a mola da vitoriosa campanha de Cristovam Buarque.
Agora, como que disposto a tirar o atraso, o PT utiliza dinheiro público para financiar manifestação da CUT e dos chamados movimentos populares contra a revisão constitucional.
A melhor definição de Tesouro Nacional que já ouvi é de Murilo Portugal, atual gerente da chave do caixa do Estado. Habituado às tentativas de saque ao erário, Portugal ensinou: "O Tesouro Nacional é o cidadão parado, em pé, no ponto de ônibus. Cada vez que se retira um centavo dos cofres públicos, o governo está metendo a mão no bolso desse cidadão".
Pois o PT de Brasília mergulhou sua mão ex-ética na algibeira do contribuinte indefeso. Pilhado pela Folha, o governo perdeu-se em contradições. Até que, passados dois dias, confrontado com fatos e documentos, Cristovam reconheceu a intenção de pagar com verba pública o ato que serviu de palanque para a reaparição de Lula.
O governador diz que não poderia ter deixado os manifestantes ao relento e com fome. Bobagem. A charanga anti-revisão só aportou na capital depois que obteve a garantia de financiamento fácil.
De resto, Brasília dispensa a importação de famintos. Se Cristovam deseja dar de comer a alguém, que saia às ruas da cidade. Tropeçará em bocas esquecidas.
Se ainda assim não desistir da idéia de transformar o contribuinte de Brasília e o próprio Tesouro Nacional, grande financiador da capital, em militantes compulsórios da CUT, acabará no banco dos réus, vítima de uma inevitável ação popular.

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