São Paulo, segunda-feira, 3 de abril de 1995
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Dorothéa ameaça punir remarcadores

DO ENVIADO ESPECIAL E DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A ministra da Indústria, Comério e Turismo, Dorothéa Werneck, afirmou ontem, em Novo Airão, Amazonas, que o governo pretende jogar duro contra alguns setores se perceber que há uma pressão por elevação de preços.
Segundo Dorothéa, o governo pretende conversar nesta semana com os setores eletroeletrônico e de embalagens, que estariam com sua capacidade produtiva "tomada". O governo pretende saber desses setores a possibilidade de se aumentar a produção para atender a demanda interna.
Anteontem, em Manaus, o presidente também abordou a possibilidade de pressionar agentes econômicos para evitar a elevação de preços.
Perguntado da possibilidade de uma elevação do preço de produtos nacionais com o aumento da taxação das importações, FHC disse que o governo pode rever as alíquotas se perceber alta de preços.

Desgaste
Apesar do discurso de Dorothéa agora estar em acordo com a fala do presidente e do ministro da Fazenda, Pedro Malan, sobre punição para quem elevar preços, a ministra está desgastada por uma série de falhas e trombadas.
Dorothéa já é considerada pelos políticos "a próxima vítima" no ministério de Fernando Henrique Cardoso.
Um dos seus padrinhos políticos no ministério FHC, o governador de Minas, Eduardo Azeredo (PSDB), tem revelado a assessores sua decepção com o desempenho da ministra.
Azeredo continua dando suporte político a Dorothéa, mas, conforme a Folha apurou, não hesitaria em retirá-lo caso FHC apresentasse a ele outro nome do PSDB mineiro para substituir a ministra.
Dorothéa, que é filiada ao PSDB mineiro, também perdeu apoio dentro do governo desde a derrota sofrida por outro dos seus padrinhos políticos, Pimenta da Veiga, que deixou a presidência do partido após divergências com o ministro Sérgio Motta (Comunicações).
O desgaste de Dorothéa cresce na mesma proporção que os boatos de sua saída do governo. A passagem por Brasília na semana passada do embaixador do Brasil em Washington, Paulo Tarso Flecha de Lima, aumentou ainda mais rumores de que a demissão da ministra estaria próxima.
Especialista em comércio exterior, Flecha de Lima passou a ser cogitado para substituir Dorothéa e teve vários encontros políticos desde que chegou ao país.
Em uma semana, Flecha de Lima almoçou com Azeredo em Belo Horizonte. Em Brasília, se reuniu com o presidente do Congresso, José Sarney (PMDB-AP), e com o senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA).
Também jantou com o presidente da Câmara, Luiz Eduardo Magalhães (PFL-BA).
O isolamento político de Dorothéa ficou demonstrado na semana passada, quando os ministros José Serra (Planejamento) e Pedro Malan (Fazenda) excluíram a ministra da decisão sobre o aumento das alíquotas de II (Imposto de Importação) de veículos, eletrodomésticos e eletroeletrônicos.
Conforme antecipou a Folha, Dorothéa só soube da medida duas horas antes de o pacote ser oficializado.
No mesmo dia, ela chegou a dizer ao presidente da Toyota do Brasil, Tokuji Nagaoka, que o governo não pretendia alterar a política dos importados.
Logo após o encontro, Dorothéa foi ao Ministério da Fazenda, onde foi comunicada que a alíquota dos carros importados iria subir de 32% para 70% no dia seguinte.
Ela sequer participou do anúcio oficial das medidas, feito pelos seus colegas Serra e Malan.

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