São Paulo, segunda-feira, 3 de abril de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Juiz importado erra mas leva vantagem no idioma

O argentino Lamolina diz que não entende palavrões

ANA ESTELA DE SOUSA PINTO
EDITORA DE FOTOGRAFIA

Produto importado com alíquota zero em tempos de déficit cambial, o argentino Francisco Lamolina não se destacou dos similares nacionais nas características técnicas.
Foram dois os quesitos que garantiram seu sucesso nesse clássico que tinha tudo para ser nervoso: o layout desconhecido e o idioma.
Aos 44 anos, Lamolina foi escalado pela Federação Paulista para melhorar o "nível desastroso" da arbitragem nas partidas mais recentes do campeonato.
Com experiência na Copa do Mundo de 94, ele é conhecido pela seriedade e pelo bom posicionamento em campo.
Acertou mais do que errou, mas deixou de dar um pênalti de Velloso em André Santos no primeiro tempo e, no segundo tempo, atrapalhou um ataque perigoso de Edmundo porque ficou plantado no meio da jogada.
Se fosse brasileiro, teria bastado para ser crucificado -no mínimo, como metáfora- pelos torcedores. Mas o longilíneo Lamolina, com suas feições européias, cabelos, bigode e olhos claros, passou ileso.
Entrou no gramado ignorado pela torcida, que chamou de "hermosa" (formosa, em espanhol), e pelos jornalistas. Saiu do mesmo jeito.
Até mesmo Irma Lamolina, de 67 anos, que ele chama de "a mãe mais famosa do mundo", foi poupada pelos torcedores. Se foi xingada por algum jogador, o juiz argentino se fez de desentendido.
Lamolina diz que não se irritou com os palavrões que ouviu de palmeirenses e corintianos. Mesmo porque não entendeu muitos deles: "Tenho problemas com o idioma".
Conseguiu segurar o jogo às custas de alguma conversa e muitos cartões. Foram sete amarelos e dois vermelhos, muito acima da média do campeonato até a última rodada (4,4 amarelos por partida e 0,75 vermelhos).
Teve sorte: Edmundo estava bem mais controlado que o costume e seus modos de "animal" não foram muito além de uma peitada no goleiro Ronaldo logo no começo da partida.
O jogador que deu mais trabalho foi o corintiano Marcelinho, que conseguiu brigar até com os inexpressivos bandeirinhas. No segundo tempo, Lamolina discutiu em tête-à-tête, sem se abalar, com o zagueiro-gigante Cleber.
O argentino saiu de campo na maior tranquilidade. Nem deu trabalho para os três policiais militares que faziam sua escolta. Parou para dizer que as partidas na Argentina são mais violentas que as brasileiras.
Aproveitou para elogiar de novo a torcida, principalmente a Fiel: "Temos torcidas vibrantes, mas esta é um espetáculo".

Texto Anterior: Marcelinho chora e reza para virar o jogo
Próximo Texto: Marcelinho faz ponte entre o esporte e o espetáculo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.