São Paulo, segunda-feira, 3 de abril de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Clarinetista extrai ouro puro do choro

LUÍS ANTÔNIO GIRON
DA REPORTAGEM LOCAL

Está chegando ao disco a nova aristocracia do choro. Depois dos fantásticos CDs dos grupos Água de Moringa e O Trio, lançados no último ano, acaba de sair "Segura Ele", do músico Paulo Sérgio Santos, 36. É mais uma aventura de alta qualidade no gênero.
Chamar Paulo Sérgio de músico em vez de clarinetista é uma imprecisão justificável. Ele toca com a mesma sensibilidade e virtuosismo clarone, requinta (clarinete menor e mais agudo do que o modelo básico), saxofones alto, barítono e soprano. Assistindo-o está a nata da MPB instrumental, como o violonista Maurício Carrilho, o tocador de cavaquinho Henrique Cazes e o percussionista Marcos Suzano.
A nova geração chorona trocou a flauta pela clarineta. A resultante sonora é mais agradável e harmonicamente equilibrada. Os arranjos possuem uma característica erudita, sem que ponham a perder a brejeirice do choro tradicional.
Paulo Sérgio talvez pertença à derradeira geração de músicos formados na música brasileira tradicional. Não se tem notícia de renovação na área. Os músicos preferem estudar na Califórnia e já não sabem fazer baião ou samba.
Paulo Sérgio é o decano do Quinteto Villa-Lobos, uma instituição do choro, e primeiro-clarinetista da Orquestra Sinfônica Brasileira. Toca também no Trio.
As 14 músicas do CD formam uma amostra do seu virtuosismo. Em "Chiclete com Banana" (Gordurinha-Almira Castilho) e "Baião de Lacan" (Guinga), exibe a emissão precisa e os dedos rápidos nas chaves.
Mas não só isso. "Segura Ele" é um dos mais belos discos de choro de todos os tempos. É uma experiência inesquecível ouvir "Lamentos" (Pixinguinha) ao sax em compasso lentíssimo e "Chorando Baixinho" (Abel Ferreira ) ao clarone. Ali, Paulo Sérgio concentra-se no lirismo até extrair ouro puro de um estilo dos mais desprezado pela indústria do disco.
O músico expande as músicas até fazê-las se transformar em nervos sensíveis. A melodia respira como um organismo vivo. Paulo Sérgio resgata o choro e demonstra que a música brasileira tem ali o seu maior tesouro instrumental.
(LAG)

Texto Anterior: Eugénia aportuguesa Vinicius de Moraes
Próximo Texto: Artistas desafiam linguagem em coletânea de vídeos do New Order
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.