São Paulo, sexta-feira, 7 de abril de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FHC admite que diferenças entre Serra e Malan são "exploradas"

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente Fernando Henrique e alguns de seus maiores amigos de fora do governo admitem que os ministros da Fazenda, Pedro Malan, e do Planejamento, José Serra, simbolizam "coisas diferentes", o que leva a uma "exploração natural do potencial de divergência entre eles".
Essa foi uma das conclusões de um descontraído encontro na sexta-feira passada da nata da intelectualidade "tucana" com o seu chefe. Presentes Gilberto Dupas, Hélio Jaguaribe, Celso Lafer e Luciano Martins, entre outros.
A Folha não pôde apurar, entretanto, quais são exatamente os símbolos diferentes que Serra e Malan expressam. É provável que se refiram à imagem dos dois junto aos formadores de opinião.
Serra é tido como algo mais protecionista do que seu colega da Fazenda, além de nitidamente mais ligado ao empresariado industrial paulista, em especial.
Além disso, mal disfarçou suas restrições à política cambial adotada após a introdução do real, quando Malan dirigia o Banco Central. Serra sempre achou que houve erro de dosagem ao se permitir que o dólar chegasse a ser cotado a apenas R$ 0,85.
Essa cuidadosa linguagem acadêmica quer dizer o seguinte, conhecidos os temperamentos de Serra e Malan: há o risco de que Serra invada território de Malan.
Outra constatação do encontro: o governo ainda não conseguiu transmitir à sociedade qual é a direção global que pretende seguir.
Um dos presentes disse que a mídia trabalha com o evento, que é sempre fragmentado e essa "lógica de fragmentação" impede que se torne claro, para a sociedade, qual é o projeto do governo.
Parte desse problema, segundo a análise da intelectualidade tucana e do presidente, se deve ao problema combinado de articulação política e de comunicação.
Coincidiu-se em reconhecer que o único coordenador político do governo é e tem que ser o próprio FHC, mas ele não pode operar no cotidiano. Deve se reservar como "última instância".
FHC lamentou a fragmentação dos partidos em geral e não poupou o próprio PSDB. Para ele, o PSDB não conseguiu ainda equacionar adequadamente o papel político que deve desempenhar, embora quadros seus ocupem três ministérios vitais (Planejamento, com Serra, Educação, com Paulo Renato Souza, e Comunicações, com Sérgio Motta).

Texto Anterior: Kissinger prevê retomada de investimentos dos EUA
Próximo Texto: Entidades articulam nova central sindical
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.