São Paulo, domingo, 9 de abril de 1995
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Elevador é cenário de sexo, briga e noivado

MAURICIO STYCER
DA REPORTAGEM LOCAL

Além de subir e descer indefinidamente, um elevador pode ter outras 1.001 utilidades.
Em seu último filme, "Sábado", que estreou esta semana em São Paulo, o diretor Ugo Giorgetti coloca o elevador como um dos personagens principais da história.
No filme, uma produtora de comerciais passa todo um sábado presa num cubículo junto com dois funcionários do Instituto Médico Legal, um cadáver e um gordo bobão (leia texto abaixo).
Na "vida real" podem acontecer coisas ainda mais estranhas. A Folha recolheu histórias impressionantes, que mostram o elevador como cenário real de gafes antológicas, brigas feias e sexo fugaz, para não falar dele como local de moradia e de primeiro encontro.
No caso mais edificante de que se tem notícia, uma dentista e um investigador de polícia se conheceram durante uma pane no elevador, começaram a namorar ao sair do cubículo, a coisa evoluiu para casamento e hoje, três anos depois, eles esperam um filho.
"Ficamos uns 40 minutos presos. Eu, ela e um senhor de idade. Ela ficou apavorada. Eu também fiquei com medo, mas disfarcei", conta Alexandre Cavalcante, 29, sobre seu inesquecível primeiro encontro com Icléa, 29.
No escuro daquele elevador na rua Minas Gerais, em Higienópolis (região central), Alexandre não arriscou nenhum gesto mais ousado. "Havia pouca ventilação. Eu só ficava falando para ela ter calma que alguém ia tirar a gente de lá. Também dizia que o elevador não ia cair", conta.
Ao serem resgatados, Alexandre e Icléa saíram do prédio e foram tomar um café na esquina. Conversaram, trocaram telefones, começaram a sair, namoraram uns seis meses, brigaram, reataram e, finalmente, se casaram. Hoje, Icléa está grávida.
O encontro no elevador impressiona o casal tanto quanto outra coincidência: nasceram no mesmo dia, mês e ano (14 de maio de 65).

Socos
Quase tão surreal quanto esse encontro romântico, só mesmo a briga que o comerciante A.P. presenciou no início desta semana.
A.P. se viu entre os socos de dois vizinhos, entre o 5º e o 6º andar de um prédio de classe média na zona sul de São Paulo.
O pretexto da briga foi a ausência de um cumprimento. Um dos vizinhos estendeu a mão para A.P. e fingiu não ver o outro ocupante do elevador. "Seu mal educado", reclamou um. "Sou mal educado, mas não sou salafrário", retrucou o outro, mandando junto um soco.

Falar demais
Um diálogo que quase acaba mal ensinou o comerciante Jayme Costa Pinto, 58, a não falar demais dentro do elevador.
Numa bela segunda-feira, Pinto ocupava calmamente um elevador no centro da cidade quando foi reconhecido por um dos ocupantes.
"Você não estava sábado à noite numa pizzaria em Moema", perguntou o desconhecido. "Estava. Nunca na minha vida vi um atendimento tão demorado e uma pizza tão ruim", respondeu Pinto.
"É bom saber, porque assim a gente pode aprimorar. Eu sou o dono da pizzaria", replicou o seu vizinho de elevador.

Amor no 8º andar
Nos anos 60, quando brilhava como o ator principal de "Os Cafajestes" e outros filmes, Jece Valadão aprendeu que, dentro de um elevador, o melhor é não falar nada -apenas agir.
"Foi um negócio inesperado. Eu morava no 5º andar e ela no 10º. Só trocamos uns olhares. Paramos o elevador no 8º, apertamos a emergência e foi lá mesmo. Naquela época, você transava mais à vontade", diz o ator.
Casado então com uma irmã do dramaturgo Nelson Rodrigues, Jece Valadão justifica o caso dentro do elevador dessa forma: "Naquela época, tudo era válido. Hoje, mesmo se a mulher quisesse, eu não transaria. Por medo da Aids e por medo de elevador".

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