São Paulo, domingo, 9 de abril de 1995
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Para médicos, série americana é caricatura

BETINA BERNARDES; DANIELA FALCÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

Risos e comentários sarcásticos. Essas foram as reações de quatro médicos do Pronto-Socorro do Hospital das Clínicas à exibição da série de TV "Plantão Médico."
Os quatro foram convidados pela Folha para assistir a um episódio do seriado, que é exibido pela Rede Globo às 22h de domingo.
Para os médicos brasileiros, a série é "exagerada" e faz uma caricatura da rotina de um hospital.
A série alcançou 17 pontos de audiência no último domingo. O índice é considerado alto para o horário: o programa anterior, "Nova York Contra o Crime", não passava de 14 pontos.
O roteirista da série é o médico e escritor Michael Crichton, autor de Jurassic Park. Nos EUA, a série estreou em 94 e hoje é sucesso. Seus protagonistas, antes desconhecidos, são considerados ídolos.
No episódio visto no HC, os médicos são surpreendidos no meio da noite por um engavetamento gigante, causado por uma nevasca e que deixa 50 feridos.

Na cara - "Nenhum hospital tem condições de atender 38 doentes graves ao mesmo tempo, realizando 22 cirurgias de uma vez só. Além disso, não se faz triagem olhando só a cara do paciente" ( Sueli Morano, diretora do PS do HC).
Mãos - "Qualquer estudante sabe que durante a cirurgia não se coloca a mão no rosto,nem se mexe nos óculos ou no estetoscópio porque esses equipamentos não estão esterilizados. Quem tem que fazer isso são os assistentes" (Oduvaldo Góes, clínico geral).
Óculos - Os óculos de plástico usados no seriado (semelhante aos dos jogadores de basquete) também são usados no HC, mas com função diferente. "Eles servem para proteger os médicos de contaminação. A gente só usa quando está atendendo. Não fica passeando de óculos para lá e para cá coomo eles fazem no filme (Ida Fortini, neurologista).
Rádios - 'Também achei estranho eles ficarem se comunicando com rádios tipo walkie-talkies. Nunca vi isso" (Oduvaldo Goés).
Mulher do lado - A rapidez e facilidade com que os médicos do seriado fizeram as cirurgias também foram alvo de ironias. "É um absurdo fazer uma traqueotomia (cortar garganta para facilitar respiração) do paciente com a mulher dele ao lado. Por mais que nos EUA os parentes tenham direito de acompanhar o paciente de perto, duvido que alguém fizesse isso", diz Soraia Barakat, clínica-geral .
Rapidez - "Aquela cirurgia não poderia ser feita em PS nenhum porque precisa de equipamentos microscópicos, sofisticadíssimos. Além disso, levaria pelo menos umas 12 horas e no seriado acontece em menos de três"( Ida Fortini).
Sem sangue - "A operação do aneurisma também é inverossímil. A médica pega o afastador (equipamento para manter pele e ossos afastados) e abre a barriga sem o menor esforço. Numa cirurgia como essa iria jorrar sangue por todos os lados, mas acho que eles ficaram com medo de assustar os espectadores"( Soraia Barakat).
Choro - "Tem um médico que chora a morte de um paciente que ele mal sabia o nome e conviveu por menos de 5 minutos. Isso é irreal"( Oduvaldo Goés).
Envolvimento - ,"Não existe envolvimento afetivo com um paciente que acabou de chegar. "Ele só vira uma pessoa depois que você conversa com ele e fica sabendo de detalhes de sua vida. Antes disso, não passa de mais um caso" (Soraia Barakat).
Depressão - "Numa situação de catástrofe como essa, se o cara morre, você vira as costas e atende o outro. O médico não fica deprimido nas emergências" (Ida.Fortini).
(DF e BB)

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