São Paulo, domingo, 9 de abril de 1995
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Pronto-Socorro do HC lembra a correria dos boxes da F-1

DANIELA FALCÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

Um falso ataque cardíaco, dois atropelamentos, quatro casos de intoxicação, um traumatismo craniano e outros 177 atendimentos de "emergência" em cinco horas.
Esse foi o balanço de uma tarde que a Folha passou no pronto-socorro do Hospital das Clínicas, em Pinheiros (zona oeste de SP), acompanhando a rotina dos 195 médicos do PS das 13 às 18h daquele dia.
O ritmo lembra boxes de Fórmula 1 na hora da troca de pneus. Médicos e maqueiros trabalham contra cronômetros para fazer o atendimento mais rápido.
Quando chega uma ambulância o trabalho pecisa ser sincronizado como o dos mecânicos. Cada um tem uma tarefa: retirar o paciente do carro e pôr na maca, remover ou colocar o soro, tentar reanimar uma vítima de ataque cardíaco.
O caso que exigiu mais rapidez da equipe do HC na quarta-feira à tarde foi o de um rapaz do Embu (Grande São Paulo) que havia sido atropelado. Ele chegou ao hospital às 14h25 com suspeitas de fraturas por todo o corpo. Em segundos, já estava na ortopedia.
Outros casos, mesmo de urgência, geram menos tensão. Às 14h30, uma mulher de aproximadamente 45 anos entrou no PS com os olhos inchados. Foi levada para a oftalmologia e liberada 40 minutos depois. Sua lente de contato havia entrado atrás do globo ocular. Era uma emergência, mas de solução simples.
Cinco minutos depois, um carro da PM trouxe uma grávida que havia desmaiado no rabalho após discutir como chefe. Ela recebeu alta às 15h10. Não perdeu o bebê.

Dublê de médico
Sebastião Donizetti Victor, maqueiro do HC há cinco anos, é responsável por transportar os pacientes das ambulâncias para o PS.
Como é a primeira pessoa a receber os doentes, já se acostumou a virar dublê de médico. "Acalmo os que estão em estado de choque e convenço quem não tem urgência a ir para o ambulatório".
Para ele, os piores dias no PS são segundas e terças. "Não tenho tempo de ir ao banheiro".
Como faltam vagas em quase todos os hospitais da rede pública, pacientes que não precisam de aendimento de urgência terminam se dirigindo ao pronto-socorro.

Vagas
O resultado, está estampado num cartaz pregado no portão de entrada do PS que informa que há um déficit de 63 leitos.
"A situação já foi pior e cheguei a ter 108 pacientes dormindo em macas espalhadas pelos corredores" diz Sueli Morano, 42, diretora do PS do HC.
Segundo a médica, o número de pacientes em macas era tão grande que não havia como medicar todos. "Alguns doentes tinham que ficar nas ambulâncias porque não havia mais macas para tirá-los dali", diz.
Hoje, o problema deixou de ser a falta de macas, mas aina é grande o número de pessoas que vai ao PS com queixas "banais" como dor de cabeça. (DF)

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