São Paulo, domingo, 9 de abril de 1995
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Urgências lutam por lugar no Miguel Couto

BENITA BERNARDES; DANIELA FALCÃO

Da Reportagem Local
No Hospital de Emergência Miguel Couto, no Leblon (zona sul do Rio), a diferença mais marcante em relação ao programa "Plantão Médico" está na porta.
Ali, as ambulâncias de resgate do Corpo de Bombeiros disputam lugar com os pacientes que mantêm uma fila média de 200 pessoas durante o dia.
"Nos EUA, há um grupo de médicos aguardando exclusivamente a chegada do resgate, sem nenhuma outra coisa a fazer", diz o pediatra Paulo Pinheiro, 46, diretor do hospital.
"Aqui, o médico está atendendo uma série de doenças que nada têm a ver com emergência, em vez de esperar apenas a chegada da ambulância", afirma.
O Miguel Couto atende em média 700 pessoas por dia; 68% delas correspondem a casos clínicos de rotina, como dor de ouvido, febre e diarréia.
"Isso modifica o perfil do hospital, o médico fixa extenuado por executar um trabalho que não era para ele realizar", diz Pinheiro.
Na avaliação do diretor, uma das principais dificuldades é a sobrecarga causada pelos 53% de pacientes que vão ao hospital e são de outras regiões da cidade.
"Eles dizem que os postos de saúde perto de casa não funcionam e acabam vindo para cá", explica.
Outro problema apontado são os leitos desativados em outros hospitais. "Sou obrigado a negar, diariamente, de 10 a 12 pedidos de vagas. Isso nos deixa apavorados, é como se estivéssemos decretando a morte de uma pessoa", diz.
Apesar disso, o médico diz que prefere trabalhar em emergência. "É onde as coisas acontecem ao vivo. No consultório, fico 30 minutos com uma criança. Na emergência, em meia-hora resolvo o problema de dezenas."
Para Paulo Pinheiro, o médico não pode jamais perder o poder de indignação.
"Não dá para chorar por todas as pessoas que morrem, mas a morte é a pior coisa que pode acontecer em um hospital", diz.
"Com o tempo, você vai ficando frustrado", afirma. Em 94, morreram no Miguel Couto 1.472 pacientes, dos 268.191 atendidos.
(BB e DF)

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