São Paulo, domingo, 9 de abril de 1995
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DEPOIMENTO

"Sou uma desencanada. Faço o que gosto de fazer. Não me defino em nada. Nem profissionalmente, nem sexualmente, nem nada.
Eu namorei durante sete anos um cara. Quando terminei, me apaixonei perdidamente por uma cantora. Meu lance com mulher nunca foi muito a parte física, é uma coisa de muito carinho.
Ela parecia uma camponesa, eu me encantei e comecei a frequentar o bar onde ela cantava até conhecer a menina. Fiquei seis meses com ela e comecei a frequentar o meio. O meio faz um pouco você.
Conheci muitas mulheres. Eram todas pessoas interessantes, que me deixaram lembranças muito boas. De muito carinho. O que não acontece com os homens.
Sempre que termino um relacionamento com homem, fico meio viúva, com raiva, apesar de sexualmente me identificar com eles.
Depois que descobri o mundo gay passei a viver a noite, frequentava boate gay. Eu gosto disso, desvendar o mundo das pessoas. Se eu me encanto, não sou muito de colocar limites.
Isso foi até os 27 anos, quando resolvi ter o Bruno. Colocar o meu filho em primeiro lugar. Eu não tinha nada com o pai dele, mas bati o olho e falei: 'é ele'. Saudável, bonito, investi. Engravidei na primeira transa. Calculei meu período fértil, avisei que queria um filho, mas não estava apaixonada.
Durante a gravidez fiquei com ele, apaixonada pela experiência. Aquela coisa de mãe, barriga, brincar de casinha. Quando meu filho nasceu, vi que tinha sido a melhor coisa que tinha feito.
Em seguida me separei. Tem uma coisa de competição com os homens que me cansa. Hoje, eu sou mãe antes de mais nada.
O pai também é superpresente, o que acho muito bom, porque o Bruno cobra muito. Sempre pede para eu telefonar para o pai. E é legal tem um número certo para ligar e uma pessoa certa do outro lado da linha.
Minha vida mudou muito, mas minha cabeça continua a mesma. Apesar do filho, continuo vivendo a minha vida, desencanada, me permitindo tudo o que me atrai.
Se me entusiasmo por alguma mulher -o que já aconteceu depois que o Bruno nasceu-, eu vou lá cantar. Não tenho muito pudor. Sempre que dá vontade, vou dançar em boates gays. Mas isso hoje é como se eu vestisse uma roupa que eu tiro e viro mãe quando chego em casa."

Rosa C., 32, é engenheira química.

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