São Paulo, domingo, 9 de abril de 1995
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Dissonâncias

SÍLVIO LANCELLOTTI

Na Europa, o futebol parece cada vez mais equilibrado. Examine o leitor a curiosa ascensão, no campeonato continental de seleções, de times como Israel, a Turquia, a Macedônia e a Finlândia. À frente, na tabela de classificação, de forças tradicionais como a França, a Suécia, a Dinamarca, a Bélgica, a Escócia e a Rússia.
Representações à parte, no entanto, no departamento dos clubes o futebol na Europa parece cada vez mais desequilibrado.
Dentre os 12 finalistas das três copas do Velho Mundo, existem equipes de apenas seis países.
A Itália lidera com quatro times (Milan, Sampdoria, Juventus e Parma), a Alemanha com três (Bayern Munique, Bayer Leverkusen e Borussia Dortmund) e a Inglaterra com dois (Arsenal e Chelsea).
Enfim, comparecem com um elenco cada a Espanha (Zaragoza), a França (Paris St. Germain) e a Holanda (Ajax Amsterdam).
Trata-se, precisamente, daqueles países onde mais se investe dinheiro no futebol profissional.
A Juventus, por exemplo, não hesitou em transferir da sua Turim para o San Siro/Meazza de Milão o jogo da última terça-feira com o Borussia, pela Copa da Uefa.
Apenas empatou o jogo, 2 a 2. De todo modo, colocou quase 81 mil espectadores no estádio, cerca de 10 mil a mais do que conseguiria em casa. A diferença correspondeu a US$ 250 mil, média várias vezes superior aos jogos do Campeonato Paulista.
Aliás, no Campeonato Italiano a média atinge a casa dos US$ 600 mil. O clássico entre Milan e a Juve, no mesmo San Siro, no sábado que passou, superou tranquilamente a marca dos US$ 2 milhões.
Valor correspondente à mera venda de ingressos. Trata-se, também, daqueles países onde melhor se organiza o futebol.
Tabelas programadas com absurda antecedência. Gramados que mais lembram o sintético dos supercarpetes.
A disciplina dos atletas contida por julgadores independentes e inatacáveis na sua imparcialidade.
A violência das torcidas cada vez mais controlada pelos clubes, seus responsáveis -além da eficiência da polícia.
Faz anos que se cobra da CBF, quando ela ainda se chamava CBD, até o final da década de 70, um calendário minimamente organizado.
Entristece. Irrita. Parece inútil.
Ao jornalista, porém, cabe lembrar e insistir, até que não lhe restem mais assuntos e não lhe sobrem mais palavras.

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