São Paulo, segunda-feira, 10 de abril de 1995
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Restauração vira moda no centenário

MAM do Rio exibe curtas em junho

AMIR LABAKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

No Brasil e no exterior, a restauração de filmes fixa-se como um dos temas centrais do centenário. Para bem, ao destacar e fomentar uma atividade fundamental tradicionalmente relegada aos bastidores das cinematecas. Para mal, ao servir por vezes de espantalho nostálgico, nas mãos das "viúvas do cinema" (na expressão de Arlindo Machado), que evita as discussões sobre o pós-fílmico.
Em fevereiro último, o festival de Berlim divulgou como nunca o Projeto Lumière, que reúne os arquivos de cinema europeus num grande esforço conjunto.
No final deste mês (22 a 29), o congresso anual da FIAF (Federação Internacional de Arquivos Fílmicos) debate em Los Angeles as principais novidades no campo da preservação e restauro, tendo como norte a que são do futuro das imagens captadas neste século.
Por aqui, ontem encerrou-se no Centro Cultural São Paulo um importante Encontro Nacional de Pesquisadores de Cinema que teve na apresentação e análise dos novos filmes nacionais restaurados um de seus pontos altos.
O professor Maximo Barros, do curso de cinema da FAAP, protagonizou o episódio mais simbólico do evento.
Em plena noite de abertura, chamado a apresentar um filme amador por ele resgatado e retrabalhado, "Cenas Familiares", rodado pelo médico paulistano Aires Netto entre 1925 e 1930, eis que Barros abriu sua fala com um depoimento curto e duro: "Perdeu-se", diz, para logo elucidar: "Perderam-se cinco latas de filmes".
Explica Barros a seguir que o filme por ele pacientemente restaurado fora devolvido ao herdeiro há meses e, ao buscá-lo às vésperas da projeção, acabou por descobrir que uma reedição contemporânea do velho descaso fez mais um registro fílmico desaparecer.
Impossível exemplo mais didático da secular crônica das perdas cinematográficas. É claro que a história do cinema nada deve ao dr. Aires, mas, como frisou Barros, a memória paulistana foi alijada de um interessante fragmento que imortalizava um Carnaval dos anos 20 na avenida Paulista.
Resignado mas não indiferente, Barros sacou do bolso do colete -ou da prateleira- uma surpreendente compensação. Um fragmento de pouco mais de um minuto, rodado entre 1925 e 1926, traz uma encantadora animação de blocos.
Um simpático soldadinho protagoniza a primeira cena; a segunda acompanha a formação de um imponente castelo.
Aquele filmete, talvez publicitário, dada a marca Sudam presente em cada bloquinho, representa o mais antigo trecho de filme de animação brasileiro que sobreviveu à erosão do tempo. Pascoal Michelli Falechi, fotojornalista que filmava nas horas vagas, é o nome de mais este pioneiro revelado. Assim reconstrói-se a história.
Três outros curtas, do arquivo da Cinemateca do MAM-RJ, reafirmaram a mágica da restauração.
"São Paulo de 32: Glorificae-o" exibe flagrantes raríssimos de confronto armado durante a Revolução Constitucionalista.
"O Negro Está Sambando" apresenta num típico protoclipe a formação original do Trio de Ouro (Dalva de Oliveira, Herivelto Martins e Nilo Chagas) interpretando acanhadamente para as câmeras o samba de Hervê Cordovil e Humberto Porto.
Já "Porto Alegre" recorda como as capitais brasileira um dia foram harmônicas e belas.
Uma mostra dos principais títulos restaurados será em julho um dos pontos altos da programação "Cem Anos em Um" da Cinemateca do MAM-RJ. Desde já, é um ciclo obrigatório.

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