São Paulo, terça-feira, 11 de abril de 1995
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Classe mais pobre quase duplica no país

NELSON BLECHER
DA REPORTAGEM LOCAL

Os 31,2 milhões de lares localizados nos 4.783 municípios brasileiros consumirão este ano US$ 235 bilhões em bens e serviços, cifra 2% superior à de 1994.
Embora representem apenas 20,2% do total, os consumidores enquadrados nas classes A e B, situadas na ponta da pirâmide de renda, serão responsáveis por 64% do total de compras.
Já os pertencentes às classes mais pobres (C, D e E), que ocupam a imensa maioria de 79,8% dos lares urbanos, responderão por somente 36% do total.
Essas projeções emergem do estudo "Brasil em Foco", conduzido pela Target, uma consultoria paulista especializada em marketing, com base na Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio (PNAD) e levantamentos da Fundação Getúlio Vargas.
Uma das revelações impressionantes do estudo é que quase dobrou, nos últimos 12 anos, o contingente da população pertencente à classe E, que percebe renda mensal de até dois salários mínimos. Eram 8,8% em 1983 e hoje são 15%. Seu poder de consumo é insignificante -apenas 1,9% dos US$ 235 bilhões.
Também cresceu, de 34,9% para 38,6%, a proporção de brasileiros da classe D, cujo consumo deve atingir 10,1% do total.
Inversamente, diminuiu o tamanho das classes A e B, que em 1983 aglutinavam 24,4% dos consumidores urbanos, 4,2 pontos percentuais superiores ao atual. A fatia dos mais ricos (classe A), com renda superior a 30 salários mínimos mensais, encolheu de 7,7% para 4,4%.
Além disso, a tendência de concentração se mantém firme mesmo entre os habitantes da ponta da pirâmide. O consumo per capita da classe A é praticamente o dobro da B, de acordo com o levantamento.
"A pesquisa constata ter ocorrido um achatamento brutal", diz o sociólogo Milton Gimenes, presidente da Target.
Outro indicador que reforça essa conclusão, segundo Gimenes, é o maior peso de alimentos e transporte. Sabe-se que, quanto maior a renda, menor a proporção desses gastos no orçamento doméstico.
As despesas com alimentos, que correspondiam a 23% em 1989, saltaram para atuais 35%. Os gastos com transporte saltaram de 0,7% para 1,3%.
O pesquisador ressalva que, para efeito comparativo, os percentuais se referem somente às compras à vista, uma vez que apenas essa modalidade era pesquisada em 1989 e somava US$ 106,5 bilhões.
Mesmo incluindo as compras a prazo no total referente a 1995, alimentação e bebidas lideram, por corresponderem a 27,7% do orçamento nos lares urbanos.
Seguem-se despesas com a manutenção da casa, vestuários e calçados.
"Os dados dessa pesquisa não são conclusivos", pondera o economista Nelson Barrizzelli, professor de marketing da USP.
Ele estima em 40% o volume de dinheiro que gira na economia informal e não é flagrado por estatísticas oficiais.
"Entre os consumidores da classe E, a proporção atinge 70%", acrescenta, ao citar um levantamento conduzido pelo instituto Interscience.
Outra revelação intrigante da pesquisa da Target é que Brasília ostenta o mais elevado índice de consumo per capita do país, apesar de escoar apenas 2% das vendas. São US$ 2.865,78, acima dos US$ 2.604,33 dos paulistas, que residem no Estado responsável por 36% do consumo nacional.

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