São Paulo, quinta-feira, 13 de abril de 1995
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Dom Paulo acha que governo começou mal

Cardeal critica manifestações violentas

GEORGE ALONSO
DA REPORTAGEM LOCAL

O cardeal-arcebispo de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns, 74, fez ontem a defesa dos "excluídos" (as camadas mais pobres da população) e afirmou que o governo FHC "começou mal".
Ele ressalvou, porém, que o "governo está apenas começando" e que os primeiros cem dias do presidente Fernando Henrique Cardoso, "que é um cientista", são ainda de "pesquisa".
A principal crítica de dom Paulo se deu em relação ao valor do salário mínimo do país, que deve subir de R$ 70 para R$ 100 em 1º de maio.
"O reajuste chega tarde. As pessoas mais importantes de uma sociedade são os trabalhadores. A cesta básica foi avaliada na semana passada em R$ 97", disse.
Durante entrevista sobre a Páscoa na sede da Cúria Metropolitana, dom Paulo convocou a população a se manter alerta: "O povo precisa se unir para o governo acertar. O governo ainda não acertou".
"Na Europa, o neoliberalismo está se esvaziando", reforçou ele. Neoliberalismo é uma corrente do pensamento que valoriza a iniciativa privada e crê que o desenvolvimento social é decorrência do desenvolvimento econômico.
Arns, porém, condenou o uso de violência em manifestações contra medidas do governo. "Esses movimentos não representam nem 1% da população. Vão desaparecer", diz.
O cardeal, porém, afirmou que a reação violenta das ruas, embora condenável, pode surtir efeito junto ao presidente. Ele citou a Bíblia, um trecho da carta do apóstolo Paulo aos romanos.
"Para quem ama, tudo concorre para o bem. Se Fernando Henrique ama o Brasil, essas pedras e paus podem fazê-lo amar mais o Brasil", comparou Arns.
Segundo ele, o Brasil está vivendo uma transição "um pouco tumultuada", mas que "acena para um tempo de mudanças reais".
"Daqui a algum tempo, vamos nos perguntar como foi possível ter um governo Sarney, um Collor, como foi possível Fernando Henrique começar um governo tão mal", afirmou Arns.

Desaparecidos
O cardeal defendeu a apuração dos responsáveis em relação a 144 desaparecidos durante o regime militar, tema levantado junto a FHC pelo secretário-geral da Anistia Internacional, Pierre Sané.

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