São Paulo, sexta-feira, 14 de abril de 1995
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Empresas contestam lista de devedoras

DA AGÊNCIA FOLHA; DAS SUCURSAIS DE BRASÍLIA E RIO

Empresas ouvidas pela Folha contestaram os valores e a lista de devedoras do Banco do Brasil, publicada na edição de quarta-feira.
Em Brasília, o gerente de comunicação da Fiat do Brasil S.A, Fernando Portela, negou que a empresa seja devedora do BB. "Consideramos a nossa inclusão na lista como um equívoco lamentável."
A Fiat Diesel Brasil S.A vendeu peças e caminhões para a Nigéria entre 79 e 81. As vendas, no valor de US$ 57,6 milhões, foram financiadas em três anos. A operação foi feita através do BB.
A empresa nigeriana pagou o que devia, mas o governo da Nigéria, em moratória (prorrogação de prazo acordada entre credor e devedor para pagamento da dívida), não repassou os créditos. O financiamento era garantido pelo IRS (Instituto de Resseguros do Brasil).
A Fiat, segundo o assessor, pagou 10% do total da venda, e os outros 90% foram pagos pelo IRS.
No Rio, o diretor de Assuntos Corporativos do grupo Paes Mendonça, Nelson Veiga, considerou o valor correto (de R$ 8,169), mas disse que a dívida "pertence à holding Serra da Pipoca", que adquiriu as 49 lojas da Bahia em 1993 e em fevereiro de 94 entrou com pedido de auto-falência.
Na ocasião, a holding Serra da Pipoca formou o grupo Unimar Supermercados S.A., que assumiu as dívidas. No entanto, os pagamentos não foram efetuados. Com a falência da holding, o processo está na justiça da Bahia.
A assessoria de imprensa da Petrobrás informou que a subsidiária Petrobrás Comércio Internacional, citada na lista como devedora de R$ 67,454 milhões, foi extinta no ano passado. Quanto à dívida, ninguém na estatal se prontificou a dar esclarecimento.
A assessoria de imprensa disse que o superintendente de Serviços Financeiros, Marcio Eiras, estava viajando. O substituto, José Melo, esteve em reunião durante a tarde e deixou a empresa sem dar esclarecimentos.
Em São José dos Campos, a diretoria da Embraer não foi localizada. Segundo a secretária Aparecida Soares, os diretores estavam viajando. A assessoria de imprensa da empresa também não funcionou ontem.
A incorporação da dívida da empresa junto ao BB pelo Tesouro foi uma determinação estabelecida no edital de privatização da empresa. A Embraer foi privatizada em 94.
Setor agrícola
O superintendente da Femecap (Federação Meridional de Cooperativas Agropecuárias Ltda), Nilo Borges Figueiredo, 65, contestou os valores: o valor da dívida é de R$ 8 milhões e não de R$ 20,74 milhões.
"Nós renegociamos a dívida em junho, quando o valor era CR$ 23 bilhões e que futuramente passou para um pouco mais de R$ 8 milhões", disse.
O superintendente disse ainda que, na renegociação, a dívida foi parcelada semestralmente até o ano 2002 e está sendo paga.
A Emater (Empresa Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural) informou que a Cooperativa Agropecuária Mista Oeste Ltda. está sob intervenção da Ocepar (Organização das Cooperativas do Estado do Paraná) e sendo desativada.
A Cooperativa Mista Oeste é que tem a maior dívida junto ao Banco do Brasil (R$ 26.047 milhões) entre as seis devedoras do Estado. A Folha ligou para a sede da Cooperativa, que fica em Toledo (oeste do Paraná), mas ninguém atendeu o telefone.
A Cooperativa Agrícola de Astorga, segunda maior devedora, com R$ 23.474 milhões, não quis se manifestar.
A Folha não conseguiu localizar o endereço e telefone das outras três empresas citadas -duas cooperativas e uma empresa de papel e celulose.
Estaleiros
Os estaleiros Emaq (dívida de R$ 8,704 milhões), Ishikawajima do Brasil (dívida de R$ 9,376 milhões) e Verolme Estaleiros Reunidos (dívida de R$ 116,619 milhões) atualmente pertencem à empresa Verolme Ishibrás. As dívidas totalizariam R$ 134,699 milhões, segundo a lista do BB.
O diretor de Relações Industriais e de Relações com o Mercado, Mauro Salgado, 45, afirma que os números estão errados. Salgado disse que o grupo tem uma dívida junto ao Banco do Brasil no valor de US$ 27 milhões. "Eu acho essa lista estranha. O cadastro do BB está inclusive desatualizado", disse.
Salgado afirmou ainda que em setembro do ano passado, quando houve a fusão dos estaleiros, as dívidas existentes com o BB foram pagas, restando apenas o débito de US$ 27 milhões.
A Sisal Rio Hotéis Turismo -com dívida, segundo a lista, de R$ 42,358 milhões - controla o Hotel Meridien (cinco estrelas), no Leme (zona sul). Seus diretores não foram encontrados ontem.
Na Companhia Comércio e Navegação, que teria duas dívidas no valor total de R$ 194,388 milhões, os responsáveis não foram encontrados para dar esclarecimentos.
Na Dover Indústria e Comércio S.A., o gerente financeiro disse que a dívida de R$ 10,237 milhões "não existe".
Em Manaus, o diretor-administrativo da Sonora, Elio Nofes, disse desconhecer as contas da empresa. De acordo com Nofes, o único que poderia dar informações é Nuno Caplan, proprietário da Sonora. Segundo Nofes, Caplan está fora do país.
No Rio Grande do Sul, a Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), que consta da lista, é a maior, mais endividada e problemática estatal. Com uma dívida de cerca de US$ 1,5 bilhão, a empresa enfrenta mais de 5.000 ações trabalhistas.
A Folha tentou falar com o empresário Wagner Canhedo, que teve as empresas Brata (Brasília Táxi Aéreo), Transportadora Wadel e Viplan (Viação Planalto) incluídas na lista.
A reportagem também tentou localizar o empresário José Paulo Boni, sócio da empresa Agropecuária Agriter, do Distrito Federal. Até às 23 horas, ele não havia retornado a ligação.

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