São Paulo, sexta-feira, 14 de abril de 1995
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Governo anuncia novos cortes em gasto de estatais

ALBERTO FERNANDES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O secretário de Política Econômica, José Roberto Mendonça de Barros, anunciou ontem que o governo fará novos cortes de gastos nas estatais. O objetivo da medida é compensar o aquecimento do consumo.
"O consumo registrou um claro aumento em abril e está em um nível preocupante", disse o secretário.
A idéia é atingir principalmente a capacidade das estatais de se endividarem.
Como o orçamento de investimentos destas empresas já é muito pequeno, o governo deverá restringir os gastos feitos com empréstimos.
Ao mesmo tempo, o governo federal deverá aumentar a cobrança de débitos -como impostos atrasados- e acelerar a privatização.
"Quando o setor privado compra uma empresa do governo, deixa de gastar aquele dinheiro no consumo", argumenta Mendonça de Barros.

Juros
Mendonça de Barros descartou, por agora, novos aumentos das taxas de juros ou outras medidas para contenção do consumo do setor privado -como, por exemplo, restrições a crediário ou a consórcios.
Segundo o secretário, o governo já esgotou este tipo de medida.
Mesmo o aperto nos depósitos compulsórios (dinheiro que os bancos são obrigados a recolher aos cofres do Banco Central) não terá muito efeito sobre o aquecimento das vendas, disse o secretário.
A mudança nos compulsórios já foi anunciada pelo presidente do Banco Central, Pérsio Arida, e está em estudos.
Os depósitos compulsórios, em tese, detêm o consumo porque diminui da quantidade de dinheiro de que os bancos dispõem para empréstimos.
No entanto, segundo o secretário de Política Econômica, qualquer aperto maior no crédito oferecido pelos bancos estimula a criação de formas de empréstimos fora do sistema financeiro, como o uso de cheques pré-datados ou empréstimos entre empresas não-financeiras, os chamados "commercial papers".
"Não queremos o aumento deste tipo de operação, que é legal, mas foge ao controle do governo", disse José Roberto Mendonça de Barros.
O crescimento de consumo em abril, segundo o secretário, aconteceu sem vinculação ao crédito. Foi causado pelas classes média e alta, que compraram principalmente com recursos próprios, por meio de saques na caderneta de poupança, e está concentrado nas capitais.
Até março, a aquecimento da economia era causado pela classe média-baixa, que comprava com financiamento.
A mudança de perfil do consumidor reforça a idéia de que as restrições ao crédito não têm mais efeitos.

Oferta
Para Mendonça de Barros, o aumento de consumo não está causando inflação, porque está existindo oferta de todos os produtos, com poucas exceções, como carros "populares".
Ele citou o exemplo do setor de embalagens, que chegou a ter 100% de capacidade utilizada (parcela do potencial de produção de uma indústria em uso), no ano passado, mas há um mês e meio baixou para 94%. A utilização total de capacidade do setor é um indício de desabastecimento.

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