São Paulo, segunda-feira, 17 de abril de 1995
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Religiosos defendem diálogo e 'paz santa'

DA REPORTAGEM LOCAL

Erramos: 01/05/95
O pastor luterano Walter Altmann é presidente do Conselho Latino-Americano de Igrejas e não presidente da seção latino-americana do Conselho Mundial de Igrejas, conforme publicado na pág. 3 do caderno Cotidiano e na pág. 6 do caderno São Paulo no último dia 17. A mesma reportagem saiu, no Cotidiano, com um erro de digitação em uma frase de Altmann. O correto é: "Sem cairmos em relativismos totais, cada qual deverá arriscar, assim, sua própria afirmação de quem é Jesus".
Religiosos defendem diálogo e 'paz santa'
Jesus de Nazaré, o fundador do cristianismo, ocupa uma posição importante também em outras religiões. É, de certa forma, um elo entre os diferentes credos.
Os judeus o vêem como aquele que, mesmo não sendo o messias esperado, pregou os ideais universais da fé judaica. Os muçulmanos o consideram um profeta. Para os seguidores do Islã, Jesus foi um propagador da palavra de Deus.
Essas abordagens, que reforçam a perspectiva de um relacionamento amistoso entre as religiões, foram reiteradas em debate realizado na Folha, na última terça-feira, sobre "O Mito de Jesus".
Participaram o padre Fernando Altemeyer Jr., teólogo da Cúria Metropolitana de São Paulo, o rabino Henry I. Sobel, presidente do rabinato da Congregação Israelita Paulista, Samir El Hayek, secretário-geral do Centro de Divulgação do Islam, o pastor luterano Walter Altmann, presidente da seção latino-americana do Conselho Mundial de Igrejas, e a teóloga metodista Nancy Cardoso Pereira.
A partir da discussão sobre Jesus, todos defenderam a necessidade de um diálogo inter-religioso.
"Não ignoramos que o Cristo tem lugar essencial no Judaísmo e no Islã. Sabemos que muito nos distingue e ainda mais muito nos une", disse o padre Fernando.
Por isso, afirmou o teólogo católico, "essa não é mais a hora da guerra santa, especialmente entre as religiões. É hora da paz santa".
Hayek, representante dos muçulmanos, concordou com e disse que nos países "verdadeiramente" islâmicos cristãos e judeus sempre tiveram proteção do Estado, ao contrário do que muitos imaginam. "O que nos falta é diálogo, tirarmos as nossas dúvidas."
Para o rabino Henry Sobel, cristãos, judeus e muçulmanos têm dois pontos em comum: "A crença em Deus como criador e pai de toda humanidade e os princípios ideais dos valores morais".
O pastor Altmann defendeu o diálogo religioso e disse que o cristianismo falhou ao tentar impor seus ideais pela violência.
"Basta evocar a terrível história de invasão do continente e o sistema de opressão colonial que foi erigido precisamente em nome desse Cristo." Para ele, as comunidades de base são um contraponto positivo àquelas experiências.
A teóloga Nancy Cardoso acha que a necessidade de diálogo começa dentro do próprio cristianismo. Para Nancy, é preciso discutir o papel que a mulher deve ter num mundo verdadeiramente cristão.
"O cristianismo é extremamente eficaz em colocar sobre nós todo um sistema de culpa", afirma. "É preciso repensar tudo isso."
Essa compreensão geral de que um diálogo inter-religioso é viável e necessário encontra, é claro, obstáculos por toda a parte.
Durante o debate na Folha, pessoas na platéia contestaram a possibilidade de entendimento entre cristãos e judeus em função das concepções diferentes sobre o caráter messiânico de Jesus.
"O respeito pelas diferenças é a essência da democracia. Existem diferenças, felizmente não existem divisões", afirmou Sobel.
Outra pessoa da platéia colocou em dúvida a capacidade dos islâmicos para o diálogo e lembrou a prática violenta de alguns países.
"Grupos radicais não representam o Islã", disse Hayek. "A palavra Islã significa paz."

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