São Paulo, quarta-feira, 19 de abril de 1995
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Presidente se adianta a críticas

GILBERTO DIMENSTEIN
DO ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

Logo ao pisar em Nova York ontem da madrugada, o presidente Fernando Henrique Cardoso iniciou uma operação que se prolongaria pela manhã ao dar entrevistas a redes de televisão americana: adiantar-se aos previsíveis focos de conflito com os Estados Unidos em torno da lei de patentes e aumento dos impostos de importação.
Por diversas vezes, referiu-se ao aumento de importação como um episódio passageiro, destinado a preservar as reservas (moeda forte) brasileiras. Anunciou que poderia até mesmo encurtar o prazo previsto da medida (um ano), desde que a balança comercial apontasse para indicadores mais positivos. "Quanto mais cedo terminar, melhor", disse ainda no aeroporto.
Existe um clima de descontentamento no governo dos EUA, particularmente no influente setor de comércio, com a elevação do imposto de importação. Fernando Henrique foi informado de que, em algum momento durante a viagem, autoridades iriam cobrar algum tipo de justificativa a essa decisão.
Fernando Henrique mostrou-se otimista sobre a aprovação da lei de patentes no Congresso -tema que provocou ontem um duro e agressivo anúncio na imprensa americana contra o Brasil, patrocinado pela indústria farmacêutica. Seu otimismo recebeu apoio do senador Antônio Carlos Magalhães, presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado.
O fato é que a comitiva oficial lamenta não ter chegado nos Estados Unidos com um troféu na mão: uma tramitação mais rápida da lei de patentes no Senado. A esforço era de que ambos os presidentes pudessem tratar apenas de uma "agenda positiva" e não controvérsias.
A estratégia de marketing de Fernando Henrique Cardoso, reforçada ontem no almoço com empresários, banqueiros e corretoras, é apresentar o país como um parceiro confiável, receptivo ao capital estrangeiro. Daí o empenho governamental, segundo ele, pela reforma constitucional.
Confiável significa regras estáveis -o maior temor dos empresários que, apesar do discurso otimista do Brasil, ainda não se recuperam do choque mexicano e, no geral, desconfiam da América Latina. Há dúvida sobre até quanto a Argentina não entraria em colapso em seus contas externas e o Brasil, em menor grau, não seria pressionado a tomar mais medidas.
A visão compartilha entre diplomatas brasileiros e americanos, entre eles o embaixador Melvin Levintsky e o chefe da Sae, Ronaldo Sardenberg, ex-representante do Brasil na ONU, é de que, apesar da diferenças, as relações entre ambos os países nunca estiveram tão boas.

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