São Paulo, quarta-feira, 19 de abril de 1995
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Assassinato de crianças nos EUA bate Brasil

GILBERTO DIMENSTEIN
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

Jornalistas norte-americanos perguntaram no ano passado ao então dirigente do Unicef, James Grant (morto há dois meses), qual a sua opinião sobre o assassinato de crianças no Brasil.
Grant respondeu que, de fato, era um problema lamentável, mas acrescentou: nos Estados Unidos matam-se mais crianças do que no Brasil, embora sem a mesma repercussão.
"Curiosamente há muitos pontos comuns entre Brasil e Estados Unidos", disse ontem o representante do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) no Brasil, Agop Kayayan.
Kayayan recepcionou a primeira-dama brasileira, Ruth Cardoso, ontem na sede da instituição em Nova York.
"Guerra civil"
"Vivemos uma guerra civil", afirma a dirigente do CDF, Marian Edelman.
Essa média é até mesmo superior à média do Brasil, onde, segundo estimativas (todas imprecisas, se comparadas com as estimativas norte-americanas), morrem assassinadas entre quatro e cinco crianças e jovens por dia.
Esses adolescentes e crianças seriam vítimas de gangues, pais, policiais ou esquadrões da morte.
Tanto o Brasil quanto os Estados Unidos estão na linha de fogo do Unicef.
Não especialmente por causa de seus números absolutos, mas pela diferença entre os seus indicadores sociais e o seu potencial econômico.
Saúde
A saúde da população negra norte-americana é pior do que muitos países da América Latina.
Somados negros e brancos, a taxa é inferior a todos os países industrializados. "O nível de vacinação em Nova York é pior do que em São Paulo", afirma Agop Kayayan.
Publicado no ano passado, documento intitulado "O Progresso das Nações", da ONU (Organização das Nações Unidas), lista uma série de números e, ao mesmo tempo, tece críticas ao que considera negligência na promoção dos indicadores sociais da infância.
Crítica semelhante costuma ser feita ao Brasil.
Esse documento mostra que, em termos relativos, a educação primária no país está bem abaixo de nações consideradas miseráveis da África.
É o caso da taxa de mortalidade infantil. Nações mais pobres do que o Brasil na América Latina ou na Ásia apresentam taxas várias vezes melhores.
"O problema não é dinheiro", afirma o representante do Unicef, mas a disposição dos governantes em colocar prioridade em educação e saúde.

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