São Paulo, segunda-feira, 24 de abril de 1995
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Forças Armadas fazem lobby pró-Sivam

LUCAS FIGUEIREDO
ENVIADO ESPECIAL A TABATINGA

As Forças Armadas estão tentando evitar que o projeto Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia) seja adiado.
A assinatura dos contratos que viabilizam o projeto está suspensa, em virtude de acusação contra a empresa gerenciadora do projeto, Esca. Ela é suspeita de ter fraudado pagamentos à Previdência.
A tática que está sendo usada é levar à Amazônia deputados que integram a Comissão de Defesa Nacional para convencê-los de que o governo corre o risco de perder o controle sobre a região, caso o projeto não seja levado adiante.
Para isso, o lobby conta com o reforço de um Boeing 737 da Presidência da República.
As Forças Armadas querem transformar os parlamentares em aliados na briga para acelerar a viabilização do projeto.
O Sivam prevê o controle dos espaços aéreo e terrestre da Amazônia por meio de radares e satélites. O sistema também irá colher informações sobre recursos minerais e terras indígenas.
A assinatura do contrato, prevista para acontecer na semana passada, foi adiada após o deputado federal Arlindo Chinaglia (PT-SP) ter denunciado que a Esca teria fraudado a Previdência.
O Ministério da Previdência confirma a existência de fraude, sem apontar culpados.
A Folha apurou que, em reunião reservada realizada na última sexta-feira, em Manaus, oficiais do Exército, Marinha e Aeronáutica apresentaram a deputados uma série de supostas ameaças à soberania nacional na Amazônia.
O isolamento da Amazônia, segundo os militares, poderia levar à internacionalização da região. O país já teria inclusive perdido algumas batalhas desta guerra.
Como exemplos foram citadas a demarcação de extensas áreas de reservas indígenas, a perspectiva de internacionalização do combate ao narcotráfico na região e a presença de missões religiosas que na verdade seriam grupos interessados nos recursos minerais do país.
"Se todos os países têm seus controles, por que nós não podemos ter?", perguntou o comandante militar da Amazônia, general Germano Pedrozo, um dos oradores da palestra aos deputados.
A Folha consultou 7 dos 11 deputados após a reunião e todos se mostraram inclinados a trabalhar para que o contrato seja assinado rapidamente.
"Nós, parlamentares, temos que fazer uma onda contrária às resistências ao Sivam", disse o deputado e capitão da reserva Jair Bolsonaro (PPR-RJ).
"Este projeto é muito importante, pelo que nos mostraram hoje, e agora precisamos concretizá-lo", disse José Rezende (PTB-MG).
"Não conheço a Esca, mas sem a menor dúvida não se pode postergar a implantação do projeto", disse Antônio Joaquim (PDT-MT).
Os deputados receberam um texto sobre o perigo de internacionalização da Amazônia, escrito pelo general Carlos Meira Mattos, o mesmo que comandou as tropas que fecharam o Congresso em 68.
O jornalista Lucas Figueiredo viajou a convite das Forças Armadas

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