São Paulo, segunda-feira, 24 de abril de 1995
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Malan justifica ação para defender Real

GILBERTO DIMENSTEIN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

Ao justificar as medidas a serem lançadas esta semana, o ministro da Fazenda, Pedro Malan, disse ontem à Folha, em Washington, que o governo não "pode nem vai" correr o risco de desestabilizar a economia.
Afirmou que, enquanto houver indícios de aquecimento "excessivo", o governo vai continuar limitando o consumo.
Ele manteve ontem contato por várias vezes com seu secretário-executivo, Pedro Parente, para dar os últimos retoques nas medidas.
Não quis detalhar o que seria anunciado. Não teve tempo de almoçar, o que o obrigou a digerir às 15h20 um sanduíche de croissant de queijo e presunto, no escritório do Brasil na sede do FMI (Fundo Monetário Internacional).
Indicou, porém, que um dos alvos é a da emissão de papéis privados pelos bancos (CDBs). Na sua avaliação, detectou-se uma expansão "indesejável" no crédito nesse segmento financeiro. Seria necessário impor mais limites.
Outro segmento a ser atingido, acrescentou, é o setor público, cujas despesas devem ser reordenadas para assegurar o maior investimento da economia. "Não há plano de estabilização sem aumento do investimento, que depende do aumento da poupança interna", afirmou.
Para ele, o segredo das economias asiáticas foi a alta taxa de poupança interna, que impulsionou investimentos -ou seja, mais máquinas, mais estradas, sistemas de telecomunicação, energia.
O fracasso do México se deveria justamente à baixa taxa de investimento, que fez com que o país tivesse uma ampla diferença entre o que produz e consome.
Malan disse que o Brasil não tem como escapar de mais medidas para desaquecer (reduzir o ritmo de crescimento) da economia. Afirmou que se não se movessem a pressão causada por mais consumo levaria ao aumento dos preços. Ou, acrescentou, maior nível de importação, capaz de abalar ainda mais a balança comercial (exportação e importação). "Os déficits são reflexo de um consumo excessivo", analisou.
Para o ministro, nenhum país do mundo deixaria de tomar medidas se estivesse em jogo a taxa de inflação ou suas reservas. "Não seríamos exceção", completou.
Ele afirmou que já "estamos virando o jogo" da balança comercial. Disse não ter dúvidas de que, em "muito breve", os saldos voltarão a ser positivos e já existem indícios da inversão de déficits.
"Não vamos surpreender ninguém", comentou. Alegou que, desde o início, falou que o Plano Real, devido à distribuição de renda nele embutida, forçaria o consumo e a cada momento medidas complementares seriam tomadas.
"A administração do plano é diária. Por isso, não usamos pacotes", disse. Daí a preocupação com as pressões que viriam do novo aumento do salário mínimo que passa para R$ 100,00 em maio.
Ele afirmou não estar convencido com os estudos de empresários de que a economia já estaria em processo de esfriamento.
Confrontado com estudo divulgado pelo FMI em seu relatório semestral, indicando que a inflação fecharia o ano perto dos 30%, preferiu não fazer previsões. Afirmou considerar errado, citando projeções de economistas no Brasil, usar-se um único mês como referência.

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