São Paulo, segunda-feira, 24 de abril de 1995
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Adolescentes estudavam e ajudavam o pai

DA REPORTAGEM LOCAL

A morte dos três adolescentes em Franco da Rocha chocou os vizinhos. Mais de 50 pessoas se aglomeraram na casa de um tio dos garotos assim que os corpos chegaram do IML (Instituto Médico Legal) de Guarulhos.
O enterro será hoje, às 9h, no cemitério de Franco da Rocha (Grande SP).
Os gêmeos Débora e Samuel, 14, e o irmão Pedro Silva Moura, 17, não tinham passagem pelo SOS Criança (órgão que recolhe menores infratores), segundo informações da delegada Isabel Cristina Ferraz.
"Eles também não eram adolescentes conhecidos pela polícia da região ou na delegacia", disse.
Débora cursava a 7ª série do 1º grau na Escola Estadual de 1º e 2º graus Professor Benedito Tavares.
As colegas a chamavam de Dé. Pela manhã, a menina ajudava a irmã Miriam na arrumação da casa. A menina não tinha namorado e, nos finais de semana, frequentava bailes acompanhada pelos irmãos. Dizem as amigas que ela gostava muito de rap.
Algumas vezes, acompanhava a família aos cultos na igreja Assembléia de Deus.
"Débora era um amor. Nunca me deu trabalho. Nunca nem repetiu de ano", disse o pai, Severino Silva Moura, 53.
A menina dizia às amigas que, no futuro, pretendia seguir a carreira de professora.
Um colega de futebol de Pedro, que não quis se identificar, afirmou que o rapaz nunca teve problemas com a polícia. "Vieram atrás do cunhado", disse, se referindo a José Adélson, casado com uma irmã dos mortos.
O futebol era a principal diversão dos irmãos Samuel e Pedro, este último torcedor do Palmeiras.
Pedrinho, como era chamado no bairro, cursava a 6ª série do 1º grau no período noturno. Ele fazia "bico" como garçom no restaurante onde o pai trabalha.
Samuel, como a irmã, também cursava a 7ª série do 1º grau. Ele não tinha emprego.
Seu apelido era Uca. O garoto não escondia de ninguém o seu desejo de se tornar policial militar.
Os três moravam com o pai, outros três irmãos, um cunhado e um sobrinho.
O pai assumiu exclusivamente a responsabilidade pela educação dos filhos há 12 anos, quando se separou da mulher. "Nunca abriria mão deles", disse.
Para sustentar a família, trabalhava como garçom em dois empregos.
Severino diz que construiu a casa em Franco da Rocha com a ajuda financeira dos filhos.
"A única coisa que eu sei é que eles não mereciam isto", disse Maria da Paz Gomes da Silva, tia dos três adolescentes.
"Nenhum dos três tinha inimigos", disse o garoto L.S.S., de 11 anos. Ele pediu para seu nome não ser publicado no jornal porque os matadores poderiam voltar.
"Eu fui ver os corpos. Estava o Pedrinho na cama e os dois na sala", disse.

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