São Paulo, segunda-feira, 24 de abril de 1995
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"Os Reis Leões"

WASHINGTON OLIVETTO

Todos estes comerciais ganharam Leões em Cannes, Clios, Fiaps e outros bichos. Alguns têm mais de 20 anos, outros são bastante recentes, mas todos têm um ponto em comum: continuam vivos na memória do consumidor.
Vamos a eles: - a Nobreza Aderiu à Mortadela, da mortadela Swift, com Raul Cortez no papel principal; - o Pingo Gigante, que lançou a torneira Deca com MVS - Mecanismo de Vedação Substituível; - os Gordinis que Capotavam, da Cofap, na primeira campanha dos 30.000 km; - o Fim do Marquês de Sade, dos depiladores Walita; - o Menino Sorrindo, da Seagram's, que implantou no Brasil a campanha Beba com Moderação; - o Homem com Mais de 40 Anos, do Conselho Nacional de Propaganda, que de um simples comercial se transformou numa lei; - o guarda da Cruzeiro com o guarda Pelé dirigindo o trânsito, dançando; - os comerciais Impotência, estrelado pela Irene Ravache, e Surda-Muda, da campanha antipoluição sonora, que iniciaram o brilhante trabalho de Sérgio Reis no marketing do Bamerindus; - o Fiat Trem, o Fiat Família Graciotti, o Fiat Laço, O Fiat Lazaroni (dá uma olhada neles, Paoli); o saponáceo Rid, da Bombril, da primeira série de Carlinhos Moreno, em 1978; - o Cretino, da farinha Boa Sorte, no ano passado; - o Guaraná Taí, Beijos para a Câmera, que o Wesley Marine, da Coca-Cola, adorava; - o Jontex Meia, com a voz da Kate Lyra, em off, e o governo militar, em on, arrancando o filme do ar no quinto dia de veiculação; - o lançamento dos copos plásticos Itap - Ninguém Usou Antes, Ninguém Vai Usar Depois; - o filme de Assugrin, Exercícios para Cuidar do Corpo; - o comercial de Guaraná Taí, Primeiro Beijo; - o comercial de Valisère, Primeiro Sutiã; - o comercial de Amore, da Estrela - A Boneca Que Fala; - o comercial da Olivetti Lettera 32, da Olivetti, com a máquina escrevendo sozinha; - o Walita Pernas, outra obra-prima do depilador Walita; - o Banco que Vira Casa, do Itaú, com o saudoso Emille Eddé que depois estrelou a série Bebe Quieto, do Whisky Drury's; - o comercial Silêncio é Ouro, das Válvulas Hydra; - a Morte do Orelhão, da Telesp; - o Rifaina, também da Telesp, estrelado pelo pessoal da própria cidade; - o Taboa, do IBDT, que no ano passado fez a Telebrás gastar a incrível quantia de 52 milhões de dólares em propaganda, buscando preservar o monopólio da telefonia; - o Hitler, da Folha, com sua mensagem cortante e uma realização inteirinha inspirada no Homem de 40 Anos; - o Personagem Mal-Humorado, do LP Hit Parade II, apresentando as 14 piores músicas de todos os tempos; - o Nariz, da Araldite; - o Câmera, da Ray-O-Vac; - o Terreno Vazio, do Banco Itaú, estrelado pelo Ewerton de Castro; - as Modelos Chegando na Esteira de Malas do Aeroporto, das sandálias Melissa; - os Frentistas do Posto São Paulo - a maior rede em simpatia, incluindo o dono Agnaldo Serra; - os Copos Quebrados, da campanha Respeite a Vida - Não Beba Antes de Dirigir, Não Dirija Depois de Beber; - o Silêncio, da Springer; - os três comerciais de Shampoo Johnson's, que incorporaram a metalinguagem na publicidade; - o Empregado que Demite o Patrão, do Classifolha; - os comerciais Collor Antes do Impeachment e Collor Depois do Impeachment - este último veiculado 24 horas depois do fato, em 30 de dezembro de 1992; a Menininha, do Vick Vaporub; - o Fusquinha na Transamazônica - o Carro Roubado, da Itaú Seguros; - a Ester Góes no Banheiro dos Homens, da Shell; - o Velhinho, da campanha Não Troque de Cara, Troque de Óptica - da Fotoptica; - a Bela Adormecida, do Ressonil - um dos raros casos onde propaganda boa não vendeu o produto; - o Tanque de Gasolina, da Texaco; - o Logo Quadrado, da BMW - o primeiro patrocinador do Manhattan Connection, o melhor programa da TV a cabo brasileira; - as Estátuas Nuas da coleção outono-inverno do Mappin, o nosso magazine; - o Isqueiro Comparado com o Fósforo, no lançamento do Turbogaz Cofap; - os comerciais Demitido, Novo Garoto (com o Jorge Neville) e Readmitido, na campanha da Bombril em 1981, onde Carlinhos Moreno fingia que a campanha tinha acabado, provocando passeatas das donas de casa; - o comercial Bateria, da Rede Zacharias; - o comercial Balanceamento, também da Zacharias; - o Ônibus, da Mercedes; - o comercial da margarina Bonna, com o jingle cantado de boca cheia; - o filme Passeata, da Staroup; - a Menina Feia, da Max Factor, estrelado pela Deni Bloch que de feia, não tem nada; - o filme Pesquisa, da Abrinq; - o filme Rojão, da Abrinq; - a campanha Trate Criança como Criança, também da Abrinq; - todos da gestão de Oded Grajew como Presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos; - os dublês de Reagan e do Chernenko jogando Atari; - o Einsten mostrando a língua, nas balas Soft; - o comercial Bom Bril Limpa Tudo, Everything Mesmo; - o comercial Toque de Alvorada, com um exército inteiro acordando com o jingle do Café Seleto e outros, muitos outros comerciais brilhantes que só não estão aqui por absoluta falha da minha memória mas que, junto com todos os relembrados, provam algo que nenhum publicitário pode esquecer. A propaganda brasileira, que foi e é capaz de fazer esse tipo de trabalho, não precisa e não pode criar comerciais fantasmas só para festivais, como vem fazendo ultimamente.
Até porque esses nunca serão lembrados principalmente por quem realmente interessa, que é o consumidor. Nem pelos seus méritos, nem pelos seus defeitos, mas pelo simples fato de não existirem.

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