São Paulo, segunda-feira, 24 de abril de 1995
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Bentinho exorciza demônios no clássico

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

São Paulo e Palmeiras entraram em campo com a mesma proposta tática e o mesmo propósito: impedir que o adversário pudesse articular-se no meio-campo. Por isso, três volantes pra cá, três pra lá, e dá-lhe a velha valsinha.
É bem verdade que o batefundo entre Rivaldo e Júnior Baiano, ainda no primeiro tempo, ofereceu espaço no salão para a turma cair no samba rasgado.
Nem assim, embora o tricolor, do começo ao fim, tivesse o domínio da bola e forçasse o desenrolar do jogo na intermediária inimiga. Perigos de gol, porém, só três do lado tricolor, todos com Bentinho, contra um chute traiçoeiro de Amaral, do outro.
Até que Bentinho pegasse de jeito, de fora da área, um petardo indefensável.
Com Rivaldo em campo até o fim, talvez a história fosse outra. Mas algo me diz que os demônios dos estádios, já antes da partida, haviam sido exorcizados. Afinal, ele se chama Bentinho, não é?

Mais uma vez, no sábado, Tupãzinho entrou e salvou o Corinthians da humilhação de perder para o América. Humilhação maior pelo simples fato de que o América foi melhor durante toda a partida.
Não sei quantas foram as vezes que Tupã salvou seu Corinthians em situações parecidas. Mas foram tantas que a Fiel, há tempos, já o chama de Talismã ao invés de Tupã. É mais do que uma rima; tem sido uma solução esotérica, posto que esse jogador parece ter sido esculpido pelo destino só para entrar no segundo tempo e livrar a cara de seus companheiros.
Quando começa como titular -e foram inúmeras as chances-, simplesmente perde o encanto.
No futebol, campo fértil para o inexplicável, isso não é novidade. Para os palmeirenses, logo vem à lembrança a figura quase caricata de Fedato: calvo precoce, desengonçado, pés virados pra dentro, tronco de lenhador, metia-se entre os ilustres membros da Academia, sempre no segundo tempo, para virar o jogo perdido.
O Inter de Minelli, bicampeão brasileiro em 75/76, no aperto, sempre recorria a Escurinho. Ao contrário de Fedato, Escurinho tinha elegância, técnica refinada e uma precisão matemática no cabeceio.
Creio mesmo que possa ocupar o nicho dos maiores especialistas nesse ramo, como Baltazar, Ademir de Menezes, Heleno de Freitas e Leivinha. Só não tinha juízo. Por isso, nunca foi titular. Mas era infalível, quando entrava no sufoco do segundo tempo.
Poderia seguir aqui exumando do baú da memória uma série infindável de exemplos como esses.
Preferi ficar com os de duas equipes memoráveis. Para lembrar, porém, que este time do Corinthians, se quiser ser memorável, terá de depender muito menos de seu talismã e muito mais de seus titulares.

Giovanni, que comandou a brilhante vitória do Santos sobre a Lusa por 2 a 1, num dos melhores jogos deste campeonato, foi chamado por Zagallo para o lugar de Amoroso e pode ocupar o de Souza. Pois eu espero ainda vê-lo ao lado de Amoroso na seleção. Seria o diabo. Vestido de casaca.

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