São Paulo, segunda-feira, 24 de abril de 1995
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Reforma assusta professores e alunos

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Problemas à vista! Mesmo longe de entrar em vigor, a reforma ortográfica da língua portuguesa, aprovada na semana passada, confunde estudantes e -o pior de tudo- professores.
A professora Nair Carvalho, do colégio Pueri Domus, por exemplo, acha que "a reforma vai ser muito positiva, pois vai simplificar a língua".
Ela cita como exemplo a retirada dos acentos nos ditongos abertos ("idéia" vira "ideia", "bóia" vira "boia").
Informada de que só os ditongos de palavras paroxítonas (em que a sílaba mais forte é a penúltima) perderão o acento, Nair retifica sua opinião: "É uma boa medida, mas precisava ser mais coerente".
As mudanças na acentuação de ditongos devem causar confusão especial. "Jibóia" vai perder o acento, pois é paroxítona (separa-se "ji-bói-a"); "Herói" continua com acento (é oxítona, ou seja, a última sílaba -rói- é a mais forte).
Se até professores se confundem, entre os alunos a confusão é ainda maior.
Carolina Malgor, 16, aluna de terceiro colegial no colégio Universitário de Itu (SP), não gostou das novidades. "Para a gente, que já está alfabetizada, vai ser uma tranca", diz.
Ela afirma estar por dentro das novas regras, mas confunde as bolas. "Vai ser horrível ter que dizer linguiça sem pronunciar a letra U, por causa do fim do trema."
Carolina está errada. Na verdade, a pronúncia das palavras não muda, mas apenas a forma de escrevê-las.
Carolina revela o temor maior dos adolescentes em idade de prestar vestibular: "Eu, que estou para entrar na faculdade, fico achando que vou rodar no vestibular com essas regras novas."
"Os alunos do terceiro ano queriam saber se a reforma já vai valer desde já", diz o professor Odilon Soares Leme, do Anglo.
"Há tantos problemas mais sérios a serem resolvidos e disso o Senado não se ocupa", diz o professor Leme. "Além disso, as mudanças feitas não vão facilitar nada, só vão criar mais confusão", avalia.
A proposta, que pretende a unificação ortográfica entre todos os países de língua portuguesa, só vai valer quando aprovada por todos eles.
Até agora, Portugal, Cabo Verde e Brasil aprovaram a reforma. Faltam ainda Angola, Guiné Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe. "É certo que nada deve mudar nos próximos três ou quatro anos", diz Leme.
Se os pré-vestibulandos estão preocupados, os mais novos curtiram as mudanças.
"No começo vai ser difícil para aprender, mas depois tudo vai ficar tudo mais fácil, com menos regras", diz Ricardo Vicalvi, 13, aluno do Pueri Domus.

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