São Paulo, segunda-feira, 24 de abril de 1995
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Romance faz paródia da reforma da língua

Mudança no português é discutida entre crimes e intriga

LUIZ ANTÔNIO RYFF
DA REPORTAGEM LOCAL

Aprovado na semana passada pelo Senado, o acordo ortográfico da língua portuguesa ainda não entrou em vigor, não é realidade, mas inspira a ficção. Em maio as livrarias ganham o primeiro livro a tratar do tema. Não é um dicionário, mas um "romance gramatical".
Em "O Verso da Língua", do jornalista Juva Batella, os personagens são as figuras da língua, como o verbo, o predicado e o trema, que se reúnem para debater e votar o acordo ortográfico.
Paralelamente se desenvolve uma trama policialesca, com direito a intriga, sequestro, assassinato e suicídio.
"O livro é uma gozação do começo ao fim. É uma paródia", diz Batella, que fez 12 versões do romance nos dois anos e meio gastos para escrevê-lo.
O livro sai no início do próximo mês pela editora Revan. Terá 192 páginas e custará R$ 18.
Antes mesmo de chegar às livrarias, o livro já conquistou alguns elogios e opiniões favoráveis.
O escritor gaúcho Luis Fernando Veríssimo faz a apresentação da obra.
"O resultado não é surrealista, é hiper-realista. É o primeiro livro de ficção que eu conheço a abordar um assunto que as palavras e os signos vêm evitando desde que nasceram: eles mesmos", escreve Veríssimo.
O presidente da Biblioteca Nacional, Affonso Romano de Sant'Anna, é outro que já leu o livro e faz elogios.
"É interessante e criativa a maneira como ele tratou de um assunto tão rebarbativo (difícil). Conseguindo transformar em uma novela, escrita com agilidade juvenil e humor crítico, um tema que tem interessado mais aos portugueses do que aos brasileiros", diz.
Embora o livro não esteja destinado especificamente a um público adolescente, Sant'Anna acredita na possibilidade de o livro se transformar em um instrumento didático.
"Ele pode se transformar numa obra que ajudará os professores de português a tornar menos árido o ensino da língua", afirma.
Sobre a padronização da língua portuguesa, Batella, que faz mestrado em Letras, é enfático.
"Eu gostaria que não mudasse. Vai se criar uma nova forma de analfabetismo no país. Não se faz um idioma dessa maneira. A ortografia é a imagem gráfica da língua. E já está criada uma familiaridade com as palavras", afirma.
Ele ressalta, contudo, que no livro há exposições favoráveis e contrárias ao acordo. A aprovação da mudança pelo Senado brasileiro pegou Batella de surpresa. "Achei que ia demorar bem mais", disse.

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