São Paulo, segunda-feira, 24 de abril de 1995
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Milícia acusa o governo pelo atentado

DANIELA ROCHA
ENVIADA ESPECIAL A FLINT (MICHIGAN)

O cerco das investigações sobre o atentado em Oklahoma se fecha cada vez mais contra a organização paramilitar Milícia de Michigan.
Há dois dias o grupo negava qualquer envolvimento dos suspeitos com a milícia. Ontem, o porta-voz do grupo, Matthew Krol, afirmou à Folha que Timothy McVeigh e os irmãos James e Terry Nichols, que ainda estão sob investigação, participaram de um encontro da milícia no ano passado, no distrito de Sanilac, onde está Decker (Estado de Michigan).
"Eles foram expulsos da nossa organização porque tinham ideais terroristas, como matar agentes do FBI, que não condizem com os nossos ideais", afirmou Krol.
A milícia tem brigadas espalhadas por todo o Estado de Michigan, e estima-se que 12 mil pessoas integrem o grupo.
Krol, um carpinteiro pai de três filhos, fundou a 25ª brigada da milícia no distrito de Oakland, próximo a Detroit, em agosto de 1994.
"Fiz isso porque amo este país, seria capaz de morrer por ele. Mas temo o meu governo porque ele tira as minhas liberdades de cidadão", disse. A seguir, leia trechos da entrevista.

Folha - Os suspeitos do atentado fazem parte da Milícia de Michigan?
Matthew Krol - Não. Eles participaram de alguns encontros da milícia no ano passado, mas foram expulsos porque propunham atividades que não condiziam com as atividades da milícia.
Folha - Quais atividades?
Krol - Eles tinham ideais terroristas. Falavam em matar agentes federais, por exemplo.
Folha - Por que a milícia escondeu essa informação antes?
Krol - A milícia é um serviço voluntário. Não temos controle de todos os que participam de cada encontro. Só ficamos sabendo agora que eles estiveram presentes em um dos encontros no ano passado.
Folha - Como os integrantes da milícia estão reagindo?
Krol - Todos os membros da milícia estão preocupados. Recebo centenas de visitas por dia. Eles querem se assegurar de que suas vidas e as vidas de suas famílias não estão em risco e saber como devem se portar com a mídia.
Folha - O sr. teme pela segurança de sua família?
Krol - Não. Mas a polícia da cidade montou uma guarda em minha casa prevendo eventuais reações contra mim, porque sou o integrante da milícia que mais está se expondo neste caso.
Folha - O sr. acredita que o número de milicianos vai diminuir por causa da suspeita?
Krol - Não, acho que vai aumentar. Estou recebendo telefonemas de todas as partes do país, como Oklahoma, Arkansas, Nova York e Flórida, de pessoas que também acham que foi o governo que organizou esse atentado para banir a nossa organização.
Folha - Por que o governo faria isso?
Krol - Porque as milícias são consideradas ilegais nos Estados Unidos. O governo lançou a lei de controle de armas, enquanto a Constituição nos assegura a liberdade e o direito à propriedade. Ter armas de fogo é um direito dos cidadãos.
Folha - O sr. disse que a polícia está em frente a sua casa para garantir sua segurança. Qual a sua relação com a polícia?
Krol - Não escondo que sou da milícia. Meus vizinhos sabem e me apóiam e a polícia também sabe. Tenho boa relação com a polícia porque eles sabem que nós, integrantes da milícia, estamos ajudando sua ação. Se encontramos uma criança perdida, levamos para sua casa. Defendemos nossas famílias e propriedades.
Folha - Quantas armas o sr. tem?
Krol - Seis, entre rifles e revólveres.

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