São Paulo, segunda-feira, 24 de abril de 1995
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Sítio fiscal

O ajuste fiscal exige esforços em várias frentes. Mas, em todas elas, os resultados têm sido até agora no mínimo desapontadores.
A austeridade depende em boa medida de ações restritas ao Executivo. Mas o que se tem visto nessa frente equivale mais à astúcia no manejo do caixa e a transferências pouco transparentes (como entre Previdência e Tesouro), que não contribuem para um equilíbrio efetivo das contas públicas.
Outra frente de luta por um ajuste fiscal duradouro é a constitucional. Mas aí também os recuos são notórios: o debate sobre a reforma tributária foi adiado, assim como as alterações na Previdência. Mudanças que facilitem e apressem o processo de privatização também estão com um horizonte incerto.
O governo decidiu-se então a atacar uma terceira frente, num terreno comum aos poderes Executivo e Legislativo: o das normas que orientam o processo orçamentário.
As regras que o governo está propondo para a elaboração do Orçamento de 1996 vão exigir dos Estados e municípios maior participação no custeio de obras realizadas em conjunto com a União. A lógica da proposta é fazer com que Estados e municípios compensem ao menos parcialmente os ganhos que obtiveram na Constituição de 1988.
Para contrabalançar o aumento das transferências obrigatórias de impostos federais, o governo quer tornar mais rigorosas as decisões que envolvem transferências voluntárias. Se quiserem continuar recebendo dinheiro federal, Estados e municípios terão ainda de fazer esforços para melhorar a arrecadação de seus impostos. A reação contrária de parlamentares foi imediata.
Não é difícil imaginar as dificuldades dessa iniciativa do governo federal, a começar pelo fato de que a Lei de Diretrizes Orçamentárias deverá ser votada por um Congresso em que a "bancada municipalista" tem tanto ou mais peso suprapartidário que a "ruralista".
Há muitas formas de ganhar uma guerra. Mas até a opção pela guerrilha fiscal, para ter sucesso, exigiria do comandante uma visão articulada do que será feito em outras frentes de batalha. Por enquanto o governo passa apenas a sensação de que está metido num verdadeiro estado de sítio fiscal.

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