São Paulo, segunda-feira, 24 de abril de 1995
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Miséria e barbárie

MARCELO BERABA

SÃO PAULO - Os cidadãos de São Paulo têm um imenso desafio pela frente: o de reverter o contínuo processo de deterioração social da cidade.
Os dados da Fundação Seade divulgados esta semana são bastante fortes. Cerca de 640 mil famílias, mais ou menos 2,3 milhões de pessoas, vive na Grande São Paulo em condição de miséria absoluta.
Miséria absoluta significa não ganhar o suficiente para comprar uma cesta básica por mês, não ter sido escolarizado e morar em péssimas condições.
Em 1990, as famílias nestas condições eram 450 mil. Em apenas quatro anos, mais 190 mil famílias foram jogadas para a indigência.
O que está acontecendo com a cidade? Economicamente, está crescendo. Mas já não o suficiente para suprir a carência de novos empregos. O desemprego cresceu mesmo no grupo dos mais favorecidos, pulando de 3,8% em 90 para 6,2% no ano passado.
Além disso, a riqueza produzida não está sendo distribuída. Em 1986, a renda média mensal dos que tinham emprego equivalia a R$ 1.044,00. Em 93, já tinha caído para R$ 551,00 e no ano passado estava em R$ 502,00.
Os dados do Seade são fortes, mas frios como qualquer número. Apenas confirmam o que observamos nas ruas. As marquises dos prédios e viadutos viraram dormitórios públicos.
A Secretaria Municipal do Bem-Estar Social calcula que aproximadamente 950 crianças vivem nas ruas. A maioria fugiu de lares miseráveis e violentos.
A violência e o aumento da criminalidade são outros indicadores da deterioração social. A sequência de chacinas que já matou 54 pessoas e feriu outras 19, a maior parte com menos de 25 anos, é um escândalo.
Assim como são escandalosos os salários dos professores e a qualidade do ensino público.
O grande problema é que vamos nos acostumando com estas aberrações e aos poucos o número de miseráveis nas ruas, de mortes violentas ou de desempregados já não sensibilizam.
São Paulo precisa urgente de um acerto de rota. Quando a miséria e a barbárie não provocam indignação, a cidadania começa a morrer.
E se iludem os que se acham a salvo. A deterioração atinge a todos.

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