São Paulo, segunda-feira, 24 de abril de 1995
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A hora do triunfo

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO - O casal em férias encontrou em Paris o casal amigo. Acharam o mundo pequeno. -"Estão gostando das férias?" -perguntaram ao mesmo tempo. Responderam ao mesmo tempo: -"Ainda não sabemos, só vamos revelar as fotos no Brasil."
A viagem presidencial acabou e as fotos estão sendo reveladas. No fundo, a viagem foi para isso mesmo: produzir fotos para mostrar ao resto da tribo que aqui ficou. Todos os presidentes quando viajam, sobretudo para os Estados Unidos, provocam entre os interessados os mesmos comentários.
O Brasil foi considerado "potência emergente" -acho que com Figueiredo. "Para onde o Brasil for, irá o resto da América Latina" foi outra frase badaladíssima após a visita de outro presidente. Agora, com FHC, descobriram que o Brasil é uma potência mundial.
Que eles digam isso, compreende-se. Mas que o governo acredite e considere-se ungido -é outra coisa. O ministro Sérgio Motta acabou de declarar que o estado brasileiro é uma "bagunça". Donde se deduz que, se há corrupção oficial, ela é abagunçada. FHC não mentiu quando garantiu lá fora que acabou com a corrupção organizada: ela nunca existiu realmente.
Os generais romanos quando voltavam das províncias conquistadas ou apaziguadas eram recebidos com os triunfos. Tito teve um triunfo memorável, Constantino e Settimio Severo também, os arcos estão lá até hoje, em Roma, eternizando os feitos.
Os triunfos presidenciais são mais efêmeros: duram o espaço de um editorial e de algumas fotos tecnicamente reveladas e exemplarmente editadas. Depois, não sei se feliz ou infelizmente (como naquele samba-canção do Sílvio Caldas e do Orestes Barbosa) tudo volta ao nhenhenhém que conhecemos.
Além de manter as bandas cambiais em seu devido lugar, o governo tem novo e urgente desafio a enfrentar. Impedir que na cesta básica comecem a faltar ovos e tomates, cuja demanda aumentou nos últimos tempos.

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