São Paulo, segunda-feira, 1 de maio de 1995
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Hutus são linchados em Ruanda

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Hutus são linchados em Ruanda
Moradores tutsis da cidade de Huye (sul de Ruanda, país da África Central) apedrejaram e espancaram até a morte 14 integrantes da etnia hutu na última quinta-feira.
Eles retornavam de um dos nove campos de refugiados que começaram a ser fechados pelo governo tutsi há duas semanas.
Segundo Fernando del Mundo, porta-voz da Alto Comissariado para Refugiados das Nações Unidas (Acnur), "cem outras pessoas foram forçadas a se esconder nas matas, enquanto as mulheres eram obrigadas a desfilar nuas pelas ruas da cidade".
Os campos de refugiados, situados na região sudoeste do país, abrigam cerca de 250 mil hutus, que não querem voltar a suas regiões de origem, temendo a vingança da minoria tutsi -que tomou o poder em 1994.
Segundo os tutsis, as milícias radicais hutus mataram entre 500 mil e 1 milhão de tutsis durante a guerra civil -justiticando a violência étnica que a sucedeu.
Os assassinatos da última quinta feira em Huye foram negados pela porta-voz do governo ruandês, Christine Umutoni.
"Soube que algumas pessoas foram presas sob suspeita de terem participado do genocídio do ano passado, mas não tenho informações sobre ninguém que tenha sido morto ou obrigado a andar nu pela cidade", declarou ela.
Fernando del Mundo, porém, disse que, além dos 14 mortos, "2.000 hutus foram detidos em todo o país". Estima-se que existam hoje mais de 30 mil hutus presos.
Os assassinatos ocorridos em Huye acontecem na esteira das violências cometidas pelo governo ao tentar dispersar os hutus dos campos de refugiados.
No último dia 22, tropas do Exército Patriótico de Ruanda (composto pelos integrantes da guerrilha tutsi Frente Patriótica Ruandesa) mataram centenas de refugiados no campo de Kibeho.
Os sobreviventes do massacre pediram passagem livre para a cidade de Uvira, no vizinho Zaire -onde já há cerca de 1,2 milhão de hutus.
O pedido foi negado pelo governo tutsi -que cortou o fornecimento de água e alimento aos refugiados-, alegando que entre eles estariam vários criminosos.
Além disso, o Parlamento do Zaire pediu ao governo local que obrigue os hutus refugiados no país a retornarem a Ruanda.
Ontem, Aldo Ajello -enviado da ONU a Kigali (capital de Ruanda)- pediu ao governo local que desista de sua estratégia de vencer pela fome e pela sede os cerca de mil sobreviventes de Kibeho que se recusam a deixar o local.

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