São Paulo, quinta-feira, 18 de maio de 1995
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Dry martíni volta com reacionários chiques

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Washington, Nova York, Chicago, Boston, San Francisco, Los Angeles estão sob o domínio cultural dos ``reacionários chiques", os correspondentes dos anos 90 aos ``radicais chiques" de 30 anos atrás. A expressão foi lançada pelo jornalista Lewis Lapham na edição de março da revista ``Harper's", por ele dirigida.
Ela é inspirada pelo termo ``radical chique", cunhado pelo jornalista Tom Wolfe, na época da revista ``Esquire". O radical chique era o membro da alta sociedade americana que simpatizava com os radicais de esquerda dos anos 60, os apoiava, os convidava para festas, os sustentava sem colocarem risco seus privilégios.
Laphan diz que o mesmo acontece agora, só que os radicais da moda são de direita. Mudaram os símbolos, os personagens, algumas expressões, mas a racionalidade e os objetivos dos dois tipos de radicais são os mesmos.
Tantos os esquerdistas dos anos 60 quanto os direitistas dos 90 defendem um romântico movimento antipolítico, adotam táticas de guerrilha cultural, dizem lutar pelos que não têm acesso ao centro de decisões. O ``establishment liberal" é o alvo dos novos revolucionários, enquanto o dos velhos era o ``establishment" apenas.
Professores universitários, jornalistas, burocratas do governo são os agentes do mal do ``novo establishment". Os despossuídos deixaram de ser os pobres e passaram a ser os integrantes da classe média. O principal símbolo da demonização do governo não é mais o Pentágono, e sim o Imposto de Renda. Sai ``Village Voice", entra ``The National Review". O radialista de direita Rush Limbaugh substitui o escritor Norman Mailer como autor milionário que posa de vítima da censura. Em vez de Abbie Hoffman, Howard Stern, iconoclasta e de aparência tão assustadora quanto o pai dos hippies.
Fumar maconha ou tomar LSD, não. Mas encher a cara de dry martínis, sim. Como dizia o escritor Tom Wolfe no seu livro ``Radical Chic" (1970), ``os modos e os valores morais, os estilos e vida diante do mundo alteram a vida do país de maneira mais crucial do que qualquer evento político".
Foi por isso que os republicanos ganharam a maioria no Congresso: por causa de seu discurso cultural revolucionário. Agora, que estão na moda, -até os mais chiques- aderem a suas práticas populistas.

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