São Paulo, quinta-feira, 18 de maio de 1995
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Dinheiro à vista

Aos poucos, o governo vem afinal dando passos mais determinados no sentido de agilizar a privatização e reafirmar metas ambiciosas.
Até agosto, por exemplo, o Executivo federal pretende arrecadar R$ 1,2 bilhão com a privatização de nove estatais. Parece pouco, diante das necessidades crescentes de recursos para equilibrar as contas públicas. Menos ainda, levando-se em conta as despesas financeiras crescentes que decorrem de uma política discutível de juros exorbitantes. Deve-se considerar, porém, que desde o início do programa de privatização, em 1991, conseguiu-se arrecadar exatamente essa quantia em dinheiro vivo.
O resto entrou no caixa como ``moedas de privatização", na realidade títulos de dívida pública trocados por patrimônio público. Tais ativos ficaram conhecidos como ``moedas podres", o que já diz tudo quanto ao seu valor.
Mas agora o governo se dispõe a arrecadar em três meses em dinheiro de verdade, ou seja, reais ou dólares, o equivalente ao que se obteve em quatro anos. Dessa perspectiva, e lembrando a notória renitência do governo Itamar nessa área, trata-se de um avanço efetivo.
A intenção de exigir mais moeda corrente na privatização não significa, entretanto, exigir apenas dinheiro de verdade. Afinal, é igualmente aceitável que se aproveite o processo de privatização para fazer um encontro de contas, abatendo ao menos em parte, e gradualmente, uma herança de passivos que tem contribuído para turvar ainda mais o futuro das finanças públicas.
A rigor, desde o início a privatização brasileira foi criticada por facilitar o uso das ``moedas podres". O atual momento econômico, contudo, é de dificuldades no ajuste das contas externas. Ou seja, o país precisa de divisas. Nada mais oportuno, assim, que utilizar a privatização para atrair capitais externos de longo prazo. E em dinheiro vivo.

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