São Paulo, quinta-feira, 18 de maio de 1995
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Sexualidade marca arte andina

KATIA CANTON
ESPECIAL PARA A FOLHA

Em Lima
Antes da chegada dos europeus, em plena época medieval, quando o corpo foi negado e tapado, a sexualidade no nosso continente era encarada com abundante alegria.
O sexo era celebrado como fertilidade. E o prazer aceito. Sem ele, entendiam os povos primitivos, uma mulher não aceitaria gerar um filho. E um homem não iria sair para trabalhar.
O prazer aparece escancarado nas ritualísticas mochicas, potes que lembram jarros, com alças, ocos por dentro, representando vida. As mochicas acompanhavam festas e enterros.
Estampavam a figura de deuses cerimoniais, como o Tumi, usado para garantir o êxito de cirurgias. E exibem enormes órgãos genitais ou posições sexuais, que hoje seriam lidas como pornográficas.
Nessas cerâmicas havia referência ao homossexualismo, de ambos os sexos, e ménages. Na representação de imagens humanas, o corpo seguia uma hierarquia. A cabeça representa o poder; o tronco, a vida; e os pés, a energia.
Com a colonização espanhola, os índios tiveram que absorver a iconografia cristã. Mas, fizeram isso a seu modo. Às cruzes católicas, colocadas nos tetos das casas foram somadas imagens de touros, representando a fertilidade e a energia sexual daqueles lares.
Tentando replicar telas medievais européias, os indígenas adaptaram a santíssima Trindade. Introduziram a imagem da mulher que lhes parecia essencial para o equilíbrio da trinca. E pintaram a Virgem Maria, com seios exuberantes, dando leite materno a Jesus.
Essas distorções deram origem à arte ``cusquenha", que se desenvolveu na região de Cuzco.
(CK)

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